EDUCAÇÃO EXCLUDENTE – ESCOLA PÚBLICA SOB CAPTURA EMPRESARIAL, CURRÍCULO ESVAZIADO E EXCLUSÃO PERFORMATIVA COMO NOVA LÓGICA DE GESTÃO EDUCACIONAL
DOI:
https://doi.org/10.56238/ERR01v10n5-021Palavras-chave:
Mercantilização da Educação, Currículo, Exclusão Performativa, Gestão EmpresarialResumo
A lógica educacional contemporânea revela-se cada vez mais subordinada à racionalidade mercadológica, na qual empresas e conglomerados privados se apropriam da escola pública, não apenas no financiamento, mas também na forma de gerir, avaliar e até na linguagem, importando nomenclaturas típicas da administração empresarial. Nesse cenário, a educação deixa de ser entendida como direito social para ser convertida em mercadoria, guiada por indicadores de performance e estratégias de mercado. O objeto deste artigo é analisar criticamente como a captura empresarial da escola pública redefine o currículo, esvaziando-o de sua dimensão crítica e formativa. A pergunta de partida que orienta o estudo é: de que maneira a lógica empresarial, ao se apropriar da gestão e do currículo, promove uma exclusão performativa e legitima uma nova forma de desigualdade educacional? Para fundamentar a discussão, o estudo dialoga com referenciais teóricos que problematizam a mercantilização da educação, como Freire (1967; 1979; 1992; 1996; 2014), Saviani (1996; 2008; 2011; 2019), Frigotto (2001; 2010), Apple (1999; 2006; 2007; 2008; 2011; 2019), Giroux (1999; 2000; 2014; 2024), Butler (1997; 2022), Fisher (2012), Dardot e Laval (2014; 2019), Ball (1994; 2005; 2007; 2008), Popkewitz (1987), Bernstein (2003), Harvey (2007; 2010), Gentili (1999), entre outros. A pesquisa adota abordagem qualitativa (Minayo, 2008), de caráter descritivo e bibliográfico (Gil, 2007), operando com um viés analítico-compreensivo (Weber, 1949). Os achados da pesquisa evidenciam que a penetração da lógica empresarial na escola pública tem promovido um esvaziamento do currículo e uma reconfiguração das práticas pedagógicas sob o signo da performatividade. Verificou-se que o discurso da eficiência e da produtividade legitima novas formas de exclusão simbólica, convertendo o direito à educação em privilégio condicionado ao desempenho. Contudo, emergem resistências docentes e curriculares que reafirmam a escola pública como espaço de formação crítica, diálogo e emancipação. Assim, a educação se mantém como território de disputa entre o controle mercadológico e a esperança pedagógica de transformação social.
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