EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA – A DISPUTA ENTRE O SABER DOS POVOS ANCESTRAIS E A ENGRENAGEM DA FÁBRICA EDUCATIVA DO CAPITAL
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n5-128Palavras-chave:
Educação Escolar indígena, Epistemologias Ancestrais, Colonialidade do Saber, Fábrica EducativaResumo
Nas últimas décadas, a educação escolar indígena passou a ocupar lugar de maior visibilidade nas políticas públicas educacionais brasileiras. No entanto, é importante destacar que esse avanço normativo nem sempre significou, na prática, o reconhecimento pleno dos saberes ancestrais e das epistemologias indígenas como legítimos fundamentos do processo educativo. Em outras palavras, ainda que marcos legais como a Constituição de 1988 e a Lei 11.645/2008 representem conquistas relevantes, persiste uma tensão entre o respeito à diversidade cultural e a padronização curricular que molda a escola a partir da lógica do capital. Assim, cabe ressaltar que a escola indígena, frequentemente, tem sido convocada a reproduzir os modelos hegemônicos de ensino, muitas vezes descolados da realidade, da cosmovisão e das formas próprias de aprender dos povos originários. E ainda, observa-se que essa escola, em vez de promover o fortalecimento das identidades coletivas, por vezes opera como um instrumento de assimilação, disciplinamento e silenciamento de tradições milenares. Desse modo, torna-se necessário problematizar de que forma a engrenagem da chamada “fábrica educativa” impacta diretamente na deslegitimação dos saberes que nascem do território, da oralidade, do ritual e da coletividade. A partir desse cenário, este artigo tem como objeto de investigação a tensão entre os saberes indígenas e a racionalidade técnica e produtivista que estrutura a educação formal brasileira. Com o objetivo de compreender como se dá essa disputa nos contextos de escolarização indígena, pretende-se analisar os desafios enfrentados pelas comunidades na defesa de seus conhecimentos e modos próprios de educar, frente à normatização imposta pelos sistemas escolares oficiais. Dessa forma, a pesquisa se orienta pela seguinte pergunta de partida: de que maneira a escola indígena pode resistir à lógica da padronização e afirmar, em seu currículo e em sua prática, os saberes ancestrais como forma legítima de conhecimento e existência? Teoricamente foram utilizados os trabalhos de Antunes (2009; 2017; 2021), Althusser (1970), Darcy (1962; 1987; 1991; 2010; 2019), Freire (1979; 2000; 2005; 2014), Frigotto (2001; 2010), Las Casas (1552), Laval (2016; 2019), Meneses (2014), Mignolo (2006; 2012), Munduruku (2005; 2009), Ribeiro (1987), Santos (2012; 2014), Simpson (2017), Smith (2007; 2019), Tuhiwai (2007; 2019), Walsh (2005; 2013; 2019) Yang (2019), entre outros. A pesquisa é de cunho qualitativa a partir de Minayo (2007), bibliográfica conforme Gil (2008) e com o viés analítico compreensivo de Weber (1949). Os achados revelam que a escola indígena, ao ser inserida no sistema educacional hegemônico, sofre pressões para adequar-se a um currículo padronizado que ignora os territórios epistêmicos ancestrais. Verificou-se que a imposição de conteúdos eurocentrados e de metodologias tecnocráticas gera rupturas nos vínculos entre saber, comunidade e território. Além disso, constatou-se que a resistência dos povos indígenas tem se manifestado por meio de práticas pedagógicas insurgentes, que buscam resgatar a oralidade, a espiritualidade e os ciclos da vida como fundamentos do ensino. Identificou-se ainda que a formação de professores indígenas críticos e a valorização das línguas originárias são caminhos essenciais para a construção de uma educação verdadeiramente intercultural. Por fim, compreendeu-se que a escola pode se tornar um território de reexistência quando rompe com a lógica da fábrica educativa e assume o protagonismo dos saberes dos povos originários.