MENINO COM SIRICUTICO: O QUE NOS FALA O CORPO DE UMA CRIANÇA AGITADA?
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n9-283Palavras-chave:
Infância, TDAH, FenomenologiaResumo
O termo popular nordestino siricutico designa uma inquietação corporal intensa e ajuda a compreender a agitação infantil para além de reduções biomédicas. A leitura histórico-cultural da infância evidencia a fragilidade e a variabilidade dos rótulos diagnósticos ao longo do tempo. Este estudo discute a agitação infantil à luz da fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger, tomando a criança como dasein e o movimento corporal como linguagem de existência. A pesquisa configurou-se a partir do mestrado orientado por Azevedo e Vale (2022), no qual apresentamos como protagonista um menino de nove anos diagnosticado com TDAH. Consideramos, nessa investigação, suas falas, desenhos, brincadeiras e gestos observados em contexto clínico-lúdico. A perspectiva da criança indica que a agitação não se reduz a aspectos biológicos do diagnóstico: ela expressa dor, culpa, tristeza e a sensação de que suas ações são sempre interpretadas como erros. O siricutico, nesse sentido, ilumina uma corporeidade pulsante e resistente à contenção normativa de uma sociedade que reprime as formas expressivas das crianças. Este trabalho busca ampliar a compreensão da infância para além dos limites diagnósticos e disciplinares, convocando-nos a refletir sobre práticas que sustentem a escuta e o reconhecimento do ser-criança. Propomos deslocar o foco da patologização para a escuta do corpo agitado como pedido de existência, articulando implicações clínicas e pedagógicas, tais como compreender a criança para além do modelo disciplinar, sustentar práticas que acolham o corporar e reconhecer a historicidade das nomeações que incidem sobre os corpos infantis.
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