DESIGUALDADE SOCIAL E PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS ZONAS FRONTEIRIÇAS DA PSICOLOGIA CULTURAL SEMIÓTICA
DOI:
https://doi.org/10.56238/levv16n51-051Palavras-chave:
Fronteiras, Universidade, Contexto Socioeconômico, Cursos de Alto PrestígioResumo
Este estudo buscou contribuir para a compreensão das dificuldades enfrentadas e fronteiras atravessadas pelos estudantes de camadas populares nos cursos de Medicina, Direito e Engenharia Civil, considerados de alto prestígio da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a partir da influência dos marcadores sociais em suas trajetórias e da investigação do papel do Programa de Assistência Estudantil na sua permanência. O principal objetivo consistiu em analisar a influência exercida pelo contexto socioeconômico na formação desses estudantes, tendo como pontos-chave da trajetória: escolha do curso, contexto socioeconômico e permanência na universidade. Para tal, foi aplicado um questionário socioeconômico e realizada uma entrevista compreensiva com três estudantes, ou seja, um de cada curso e, por fim, a análise de conteúdo qualitativa das respostas. Chegou-se à conclusão de que o contexto socioeconômico é um ponto crucial para esses graduandos, e o Programa de Auxílio Estudantil tem um papel fundamental em sua permanência. Além disso, foram explicitados os momentos cruciais do atravessamento das linhas fronteiriças presentes tanto no contexto pré-universitário (do vestibulando) quanto durante o curso de graduação (do universitário), chegando à conclusão de que a universidade é uma zona fronteiriça entre o presente e o que se espera do futuro atrelado à mobilidade social. Conclui-se que tais estudantes passam por desafios financeiros e acadêmicos, e o auxílio estudantil representa uma ferramenta para lidar com o novo contexto e as novas necessidades que emergem a partir do atravessamento para a fronteira institucional, tornando-se um signo promotor do atravessamento de fronteiras, ou seja, um elemento facilitador para a sua permanência na zona fronteiriça. Por fim, o estudo buscou contribuir para a compreensão das dificuldades enfrentadas e fronteiras atravessadas pelos estudantes de camadas populares em alguns dos cursos de alto prestígio da UFBA, investigando o papel do Programa de Assistência Estudantil na sua permanência dentro da universidade, orientando a eventual e possível manutenção dos programas de auxílio estudantil.
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