“BOTINA E BATOM: MULHERES QUE FAZEM O AGRO ANDAR”: O PROTAGONISMO DAS MULHERES RURAIS EM CONTEXTOS DE DESIGUALDADE E INOVAÇÃO NO CAMPO

Resumo

Este artigo investiga as estratégias de resistência e reposicionamento identitário adotadas por mulheres para garantir sua permanência e liderança no setor rural, um espaço historicamente marcado por estruturas patriarcais e desigualdades de gênero. A partir de uma abordagem qualitativa, com base em entrevistas em profundidade, o estudo identifica como essas mulheres enfrentam barreiras simbólicas e estruturais — como o descrédito técnico, a deslegitimação da autoridade e o assédio — e constroem formas próprias de liderança. A análise dos dados revela um repertório sofisticado de práticas cotidianas, incluindo posicionamento assertivo, camuflagem identitária, reconfiguração da imagem feminina, protagonismo na gestão e formação de redes de apoio. Tais estratégias dialogam com os aportes teóricos de Joan Acker, Judith Butler, Erving Goffman e Gianpiero Petriglieri, evidenciando que a resistência feminina não se limita à contestação, mas se manifesta como ação performativa, relacional e transformadora. O estudo contribui para a compreensão dos mecanismos sociais que sustentam o “teto de vidro” no campo e aponta caminhos para a promoção da equidade de gênero no agronegócio. Conclui-se que essas lideranças femininas, ao transformarem suas identidades e práticas de gestão, reconfiguram também as dinâmicas de poder no meio rural, promovendo inovação, inclusão e reconhecimento simbólico.