PSICOTECNOLOGIA – DA TELA AO ANSIOLÍTICO: TECNOLOGIAS DIGITAIS, ADOECIMENTO MENTAL E MEDICALIZAÇÃO DA VIDA UNIVERSITÁRIA

Autores

  • Priscila Gonçalves Soares dos Santos Autor
  • Ana Cláudia Afonso Valladares-Torres Autor
  • Luciana da Costa Dutra Autor
  • Alcicleide Alexandre dos Santos Bezerra Autor
  • Michelle Alves dos Santos Costa Autor
  • Márcia Marin de Liz Autor
  • Diego Oliveira Brito Autor
  • Lucia Helena Severina de Rezende Autor
  • Francisco Alain Peixoto de Sousa Autor
  • Daniel Wallace de Paula Marques Ribeiro Paes Landim Autor
  • Alana Tereza Ferreira Viana Wanderley Autor
  • Natan Huan Resende Campideli Autor
  • Tarcisio Bezerra de Lima Júnior Autor
  • Daniel Sales de Almeida Autor
  • Rogerio Pacheco Bras Autor
  • Maitê Guimarães Pinto Autor
  • Ricardo Batista Ferreira Autor
  • Renata Cristina Conte Autor

DOI:

https://doi.org/10.56238/arev7n8-194

Palavras-chave:

Tecnologias Digitais, Adoecimento Mental, Medicalização, Universidade

Resumo

O avanço das tecnologias digitais tem reconfigurado de modo profundo os modos de ser, aprender e viver na contemporaneidade, sobretudo no contexto universitário, onde o tempo e a produtividade tornaram-se mercadorias de alto valor simbólico e material. O presente artigo insere-se nesse cenário para problematizar os efeitos subjetivos e psicossociais da hiperconectividade e da tecnomediação da vida acadêmica. O foco recai sobre os processos crescentes de adoecimento psíquico entre estudantes universitários, suas correlações com o uso intensivo de tecnologias digitais e a consequente medicalização dos sofrimentos produzidos. O objeto central da investigação é a articulação entre o uso cotidiano das tecnologias digitais – especialmente em plataformas educacionais, redes sociais e dispositivos de comunicação – e a intensificação de sintomas como ansiedade, depressão e exaustão emocional entre universitários. Busca-se compreender como tais dispositivos operam não apenas como ferramentas técnicas, mas como “psicotecnologias”, isto é, elementos que incidem diretamente sobre a subjetividade, regulando afetos, ritmos e modos de existência. Os objetivos do artigo são: (1) contextualizar criticamente o uso das tecnologias digitais no ambiente universitário; (2) analisar as formas de adoecimento mental que emergem nesse contexto; (3) discutir o papel da medicalização como resposta social e institucional ao sofrimento psíquico dos estudantes; e (4) propor reflexões que tensionem os limites entre cuidado e controle na gestão da saúde mental universitária. A pergunta de partida que orienta este estudo é: De que maneira as tecnologias digitais, enquanto dispositivos de controle psicossocial, contribuem para o adoecimento mental e a medicalização da vida de estudantes universitários na contemporaneidade? Ao perseguir essa indagação, o artigo busca construir uma crítica à racionalidade tecnocrática que, ao mesmo tempo promete autonomia e conectividade, acaba por capturar os sujeitos em redes de vigilância, desempenho e autocorreção, deslocando os sentidos do cuidado e do viver universitário. Fizemos uso do s trabalhos de Aguilar (2022), Bauman (2003; 2004; 2007; 2008; 2009; 2013), bell hooks (2003; 2013), Byung-Chul Han (2015; 2017), Castells (2003; 2009; 2010), Foucault (1976; 2008), Giddens (1991), Illich (1976), Kabat-Zinn (2013), Maslach; Jackson; Leiter (2001), McEwen (2007), Freire (1996), Rosa (2019), Rosen; Carrier; Cheever (2015), Sennett (1998; 2006; 2012), Shochat; Cohen-Zion; Tzischinsky (2014), Sibilia (2008; 2012), Small (2019), Turkle (2015), Walker (2018), entre outros. A pesquisa é de cunho qualitativa (Minayo, 2007), bibliográfica e descritiva (Gil, 2008) e com o viés analítico compreensivo (Weber, 1949). O estudo demonstrou que as tecnologias digitais, ao mesmo tempo em que facilitam o acesso ao conhecimento, também instauraram novas formas de vigilância e regulação da vida acadêmica. Identificou-se que a hiperconectividade intensifica quadros de ansiedade, depressão e burnout, tornando a desconexão quase impossível. Evidenciou-se que a medicalização tem funcionado como resposta institucional recorrente, porém limitada, diante desse adoecimento. Constatou-se que, em vez de enfrentar as causas estruturais, a lógica dominante transfere a responsabilidade ao estudante. Por fim, compreendeu-se que repensar o cuidado exige tensionar os limites entre emancipação e controle na gestão da saúde mental universitária.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

BAUMAN, Z. Community: Seeking Safety in an Insecure World. Cambridge: Polity Press, 2003.

BAUMAN, Z. Liquid Life. Cambridge: Polity Press, 2005.

BAUMAN, Z. Liquid Modernity. Cambridge: Polity Press, 2000.

BAUMAN, Z. Liquid Times: Living in an Age of Uncertainty. Cambridge: Polity Press, 2007.

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BAUMAN, Z. Sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

BAUMAN, Z. Vigilância líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

BELL HOOKS. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.

BELL HOOKS. Teaching Community: A Pedagogy of Hope. New York: Routledge, 2003.

BYUNG-CHUL HAN. The Burnout Society. Stanford: Stanford University Press, 2015.

BYUNG-CHUL HAN. Psychopolitics: Neoliberalism and New Power Techniques. London: Verso, 2017.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

CASTELLS, M. Communication Power. Oxford: Oxford University Press, 2009.

CASTELLS, M. The Rise of the Network Society. Oxford: Blackwell, 2010. DOI: https://doi.org/10.1002/9781444319514

DAMÁSIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

DOS SANTOS, A. N. S. et al. Entre o fim e o infinito – Formação e prática tanatológica no cuidado à morte e ao morrer em pacientes gravemente enfermos. ARACÊ, [S. l.], v. 7, n. 5, p. 27081-27137, 2025. DOI: 10.56238/arev7n5-352. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.56238/arev7n5-352

https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/5361. Acesso em: 23 jun. 2025.

DOS SANTOS, A. N. S. et al. Políticas de saúde e desigualdade – determinantes sociais e barreiras no acesso aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). ARACÊ, [S.l.], v. 7, n. 4, p. 17006-17039, 2025. DOI: 10.56238/arev7n4-082. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/4324 Acesso em: 10 Jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.56238/arev7n4-082

DOS SANTOS, A. N. S. et al. Prevenção ou medicalização? Os desafios da Atenção Primária à Saúde (APS) na era do rastreio populacional e da gestão de risco. ARACÊ, [S.l.], v. 7, n. 3, p. 10567-10589, 2025. DOI: 10.56238/arev7n3-287. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/3902 Acesso em: 10 Jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.56238/arev7n3-287

DOS SANTOS, A. N. S. et al. Por uma Atenção Primária transformadora: formação e capacitação profissional para fortalecer o trabalho no cuidado à Saúde da Família. ARACÊ, [S.l.], v. 7, n. 3, p. 11001-11030, 2025. DOI: 10.56238/arev7n3-054. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/3700 Acesso em: 10 Jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.56238/arev7n3-054

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1976.

FOUCAULT, M. The Birth of Biopolitics. New York: Palgrave Macmillan, 2008.

GIDDENS, A. Modernity and Self-Identity. Cambridge: Polity Press, 1991.

ILLICH, I. Medical Nemesis: The Expropriation of Health. New York: Pantheon Books, 1976. DOI: https://doi.org/10.1097/00004010-197700000-00017

KABAT-ZINN, J. Full Catastrophe Living. New York: Bantam Dell, 2013.

MASLACH, C.; JACKSON, S. E.; LEITER, M. P. Maslach Burnout Inventory Manual. Palo Alto: Consulting Psychologists Press, 2001.

McEWEN, B. The End of Stress As We Know It. Washington, DC: Joseph Henry Press, 2007.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232007000400030

PAULO F.. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

ROSA, H. Social Acceleration: A New Theory of Modernity. New York: Columbia University Press, 2019.

ROSEN, L. D.; CARRIER, L. M.; CHEEVER, N. A. The Distracted Mind: Ancient Brains in a High-Tech World. Cambridge, MA: MIT Press, 2015.

SANTOS, A. N. S. dos. et al. Saúde coletiva e equidade – desafios e estratégias para um sistema de saúde inclusivo e sustentável. Observatório de la Economía Latinoamericana, 23(1), e8946, 2025. DOI: https://doi.org/10.55905/oelv23n2-041

Disponível em: https://doi.org/10.55905/oelv23n1-2025. Acesso em: 10 Jun. 2025.

SANTOS, A. N. S. dos. et al. Entre o peso do cuidado e a exaustão invisível: o desgaste biopsicossocial dos profissionais da educação e saúde a partir da “Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han. Cuadernos de Educación y Desarrollo, 16(6), e6979, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.55905/cuadv16n6-2024 Acesso em: 10 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.55905/cuadv16n13-101

SANTOS, A. N. S. dos. et al. “Ordem de saúde, norma familiar”: entrelaçando os saberes técnico-científicos sanitaristas e o conhecimento cultural popular de medicina familiar no imaginário coletivo. Observatório de la Economía Latinoamericana, 22(9), e6930, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.55905/oelv22n9-2024 Acesso em: 10 Jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.55905/oelv22n9-202

SANTOS, A. N. S. dos. et al. “Diálogos que Curam”: a percepção dos pacientes sobre a comunicação dos profissionais da saúde no SUS. Contribuciones a las Ciencias Sociales, 17(6), e7404, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.55905/clcsv17n6-2024 Acesso em: 10 Jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.55905/revconv.17n.6-100

SANTOS, A. N. S. dos. et al. Tecendo os fios da saúde pública: o impacto do saneamento básico na qualidade de vida urbana e no meio ambiente. Cuadernos de Educación y Desarrollo, 16(5), e4259, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.55905/cuadv16n5-2024 Acesso em: 10 Jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.55905/cuadv16n5-079

SENNETT, R. The Corrosion of Character: The Personal Consequences of Work in the New Capitalism. New York: W. W. Norton, 1998.

SENNETT, R. The Culture of the New Capitalism. New Haven: Yale University Press, 2006.

SENNETT, R. Together: The Rituals, Pleasures and Politics of Cooperation. New Haven: Yale University Press, 2012.

SHOCHAT, T.; COHEN-ZION, M.; TZISCHINSKY, O. Functional Consequences of Inadequate Sleep in Adolescents: A Systematic Review. Sleep Medicine Reviews, v. 18, n. 1, p. 75-87, 2014. DOI: https://doi.org/10.1016/j.smrv.2013.03.005

SIBILIA, P. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

SIBILIA, P. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

SMALL, G. iBrain: Surviving the Technological Alteration of the Modern Mind. New York: HarperCollins, 2019.

TURKLE, S. Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age. New York: Penguin Press, 2015.

WALKER, M. Why We Sleep: Unlocking the Power of Sleep and Dreams. New York: Scribner, 2018.

WEBER, M. Ensaios de sociologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1949.

Downloads

Publicado

2025-08-19

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

DOS SANTOS, Priscila Gonçalves Soares et al. PSICOTECNOLOGIA – DA TELA AO ANSIOLÍTICO: TECNOLOGIAS DIGITAIS, ADOECIMENTO MENTAL E MEDICALIZAÇÃO DA VIDA UNIVERSITÁRIA. ARACÊ , [S. l.], v. 7, n. 8, p. e7405 , 2025. DOI: 10.56238/arev7n8-194. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/7405. Acesso em: 5 dez. 2025.