VACINA, SARAMPO E ENDEMIZAÇÃO – ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA COBERTURA VACINAL E RISCO DE ENDEMIZAÇÃO DO SARAMPO NAS CAPITAIS BRASILEIRAS (2010 – 2024)
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n7-318Palavras-chave:
Cobertura Vacinal, Endemização do Sarampo, Hesitação Vacinal, Vigilância em SaúdeResumo
Nas últimas décadas, o Brasil assistiu a um preocupante declínio na cobertura vacinal da tríplice viral, especialmente no tocante à segunda dose, fundamental para garantir a imunidade coletiva contra o sarampo. A partir desse cenário, o presente estudo tem como objeto a análise espaço-temporal da cobertura vacinal do sarampo nas capitais brasileiras entre 2010 e 2024, com especial atenção ao risco de endemização decorrente da baixa adesão ao esquema vacinal completo. A investigação parte da seguinte pergunta norteadora: em que medida os dados por capitais revelam uma diminuição abrupta da cobertura vacinal da segunda dose, capaz de favorecer a reemergência endêmica do sarampo em determinados territórios urbanos? Com base em dados secundários extraídos do DATASUS/TabNet e estudos já publicados, o artigo identifica importantes assimetrias geográficas e temporais: enquanto a primeira dose da vacina atinge coberturas médias superiores a 75% nas capitais, a segunda dose apresenta índices críticos, muitas vezes inferiores a 50%, como em Natal (abandono de 19%) e João Pessoa (14,7%). Ao longo da série histórica, observou-se um pico de cobertura entre 2013 e 2016 (≥ 95%), seguido de queda abrupta em 2019-2021, coincidente com o período pandêmico. Teoricamente, fizemos uso dos trabalhos de Alves (2021), Aminzadeh (2017), Anderson et al. (2018), Aven (2017), Beck (1999), Figueiredo (2016), Fleury & Ouverney (2012), Galea (2021), Garvey (2008), Heymann (2004), Hotez (2018), Larson (2020), Last (2000), Offit (2010), Ramos (2020), Santos et al. (2024), Schwarcz & Starling (2020), Souza (2021), Timmreck (1998), UNICEF (2020; 2023), Vieira-da-Silva & Almeida Filho (2009), entre outros. A pesquisa é de cunho qualitativa (Minayo, 2007), bibliográfica e descritiva (Gil, 2008), com o viés analítico compreensivo (Weber, 1949). Os achados apontam elevados índices de abandono vacinal da segunda dose da tríplice viral, com destaque para capitais como Natal e João Pessoa. Embora a primeira dose apresente coberturas superiores a 75%, a baixa adesão à segunda aplicação compromete a imunidade coletiva e favorece a reendemicidade do sarampo. A queda abrupta entre 2019 e 2021 coincide com a pandemia e o avanço da hesitação vacinal. Identificaram-se “clusters urbanos” de risco, exigindo políticas públicas pautadas na equidade e em estratégias eficazes de vigilância e comunicação.