CORPOS QUE SENTEM FOME: REFLEXÕES ETNOGRÁFICAS DA ALIMENTAÇÃO, PUNIÇÃO E DESIGUALDADES EM UM CONTEXTO PRISIONAL FEMININO
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n6-316Palavras-chave:
Sistema prisional feminino, Direito à alimentação, Insegurança alimentar, Políticas públicas, Direitos humanos, Etnografia, Desenvolvimento socialResumo
O presente trabalho analisa a interseção entre alimentação, trabalho prisional, direitos humanos e políticas públicas no contexto do Presídio Estadual Feminino de Rio Pardo (RS), com foco nas experiências alimentares de mulheres encarceradas. O objetivo foi compreender como as práticas alimentares vividas por essas mulheres refletem desigualdades de gênero, raça e classe, revelando falhas estruturais na garantia do direito à alimentação adequada. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa e etnográfica, com incursões semanais à unidade prisional, uso de observação participante, entrevistas semiestruturadas com seis mulheres atuantes na cozinha, aplicação de questionário estruturado e avaliação antropométrica com 33 detentas, além da Análise Textual Discursiva dos dados. Os resultados indicam um cenário de insegurança alimentar crônica, com predominância de refeições hipercalóricas e nutricionalmente pobres, ausência de planejamento técnico e negligência institucional, configurando violações sistemáticas de direitos humanos. Constatou-se a prevalência de sobrepeso e obesidade associadas à má nutrição, além da vivência de formas subjetivas de fome, como a “fome emocional” e a “fome específica”. As práticas alimentares no cárcere revelaram-se também como espaços de cuidado, resistência e produção de sentido, onde cozinhar se configura como ato político e afetivo. O estudo reforça a urgência de políticas públicas intersetoriais que articulem segurança alimentar, justiça social e desenvolvimento regional, reposicionando a alimentação como vetor estratégico de dignidade e reintegração social em contextos de privação de liberdade.