CURRÍCULO ESCOLAR COMO ESPAÇO EM DISPUTA – EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SABERES DE POVOS ORIGINÁRIOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n5-230Palabras clave:
Currículo em Disputa, Saberes Ancestrais, Educação Ambiental Crítica, Justiça EpistemológicaResumen
O currículo escolar, mais do que uma simples organização de conteúdos, é um “território simbólico” em permanente disputa, onde diferentes concepções de mundo, valores e saberes se confrontam e se entrelaçam. É nesse espaço que se decide quais conhecimentos são considerados válidos e dignos de serem ensinados e quais, por sua vez, são marginalizados ou invisibilizados. Assim sendo, é importante destacar que a educação ambiental, quando orientada exclusivamente por uma perspectiva técnico-científica ocidental, muitas vezes negligencia os saberes ancestrais e as práticas de cuidado com a natureza cultivadas por povos originários e comunidades tradicionais. Desse modo, cabe ressaltar que a inclusão de saberes indígenas, quilombolas, ribeirinhos e de outras comunidades tradicionais nos currículos escolares não se trata apenas de uma questão de representatividade cultural, mas de justiça epistemológica. Em consequência disso, o presente estudo tem como objeto o currículo escolar entendido como espaço de disputa epistemológica, a partir da análise da presença – ou ausência – da educação ambiental conectada aos saberes de povos originários e comunidades tradicionais. O objetivo geral é refletir sobre como o currículo pode ser ressignificado para acolher perspectivas ambientais que dialoguem com outras racionalidades, para além da lógica dominante do capital e da racionalidade técnica. Além disso, busca-se identificar as barreiras e os desafios para a valorização desses saberes no contexto escolar, bem como mapear experiências pedagógicas que promovam a integração entre escola, território e ancestralidade. Entre os objetivos específicos, pretende-se ainda analisar documentos curriculares e propostas de políticas públicas que tratam da educação ambiental e da interculturalidade, com vistas a identificar avanços e limitações. Assim, a pergunta de partida que orienta esta investigação é: de que maneira o currículo escolar pode ser transformado em um espaço de acolhimento e valorização dos saberes ambientais de povos originários e comunidades tradicionais, contribuindo para uma educação ambiental crítica, plural e decolonial? Teoricamente, utilizamos as obras de Simpson (2017), Bispo dos Santos (2023), Sousa Santos (2006; 2012; 2014; 2018), Brandão (2007), Capra (1997), Conde (2016), Darrell Posey (1985; 1996; 2002), Eliane Potiguara (2018), Freire (1992; 2000; 2014a; 2014b), Leff (2014), Smith (2007), Meneses (2014), Miraglia (2022), Morais (2020), Quintero (2018), Steven Vertovec (2004), Walsh (2005; 2006), entre outras. A pesquisa é de cunho qualitativa a partir de Minayo (2007), descritiva e bibliográfica conforme Gil (2008) e com o viés analítico compreensivo como pontua Weber (1949). Os achados da pesquisa revelaram que o currículo escolar ainda reproduz uma lógica excludente, marcada pela invisibilização dos saberes ancestrais e pela hegemonia da racionalidade técnico-científica. Contudo, identificaram-se experiências pedagógicas que promovem o diálogo entre escola, território e ancestralidade, evidenciando brechas para a construção de uma educação ambiental crítica, plural e decolonial. Além disso, verificou-se que políticas públicas e documentos curriculares avançaram em termos discursivos, mas ainda enfrentam desafios na implementação prática da interculturalidade e da justiça epistemológica nas escolas.
