EDUCAÇÃO CTSA O USO DE TEMAS CONTROVERSOS COMO ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS: NA FORMAÇÃO INICIAL DE PEDAGOGOS
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n12-074Palavras-chave:
Abordagem CTSA, Questões Sóciocientificas, Formação Inicial de Professores, ArgumentaçãoResumo
Este estudo tem como objetivo discutir a abordagem das questões sociocientíficas (QSC) de modo que, possibilite aos professores dos anos iniciais implementarem um ensino de ciências crítico, amparado nas relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA). Entendemos que para isso é necessário que os estudantes participem, já durante o período de formação inicial, de discussões sobre temas controversos. Para isso, elegemos como ponto central para a elaboração de uma proposta da pesquisa experimental, no curso de pedagogia, a temática do uso de medicamentos e agrotóxicos na sociedade. Dessa forma, dois campos de estudo estão relacionados: o da educação CTSA e, particularmente o estudo das questões sociocientíficas; assentado no referencial teórico metodológico da pesquisa apoiado no processo discursivo argumentativo, na Teoria do Agir Comunicativo (HABERMAS, 2012). A questão central a que nos dedicamos é: de que forma a argumentação pautada em uma abordagem CTSA em torno de um tema controverso, contextualizado e real, pode contribuir com discussões a respeito das mudanças metodológicas da educação tradicional/bancária para a promoção do desenvolvimento social e crítico dos estudantes? Por estar ancorada na compreensão de que a vida no planeta está doente, elegemos o uso de agrotóxicos e de medicamentos na sociedade atual como temática sociocientifica, uma vez que tanto o solo quanto o corpo humano são alvo de uso corriqueiro de substâncias tóxicas produzidas pela indústria química (MARINHO; MENDONÇA, 2008). O crescimento das indústrias de fármacos e de agrotóxicos no mundo contemporâneo dos negócios transformou o crescimento sustentável em sinônimo de crescimento durável, protetor do lucro das grandes empresas multinacionais. De acordo com Lutzenberger (1985), mesmo sendo tóxicos, o uso de agrotóxicos e de medicamentos transformou-se em um ciclo lucrativo, tanto os pesticidas como os medicamentos seguem um mesmo caminho, sendo usados para atuar sobre os sintomas, e não sobre as causas das doenças, cuja solução também é considerada como cura temporária com seu uso exagerado, gerando por exemplo resistência bacteriana aos antibióticos, necessitando de medicamentos mais potentes. No capitalismo, a maximização do lucro é uma prioridade, de modo que os agrotóxicos são utilizados para aumentar a produtividade e reduzir perdas, incentivando os agricultores a produzirem mais em menos tempo. Essas questões são veiculadas pelas mídias, trazendo inquietações que podem ser levadas para um curso de formação de professores, fomentando debates, críticas, questionamentos e discussões, como é esperado em um ensino pautado pelas questões controversas (CONRADO; NUNES-NETO, 2018). Propor situações de discussões e argumentação nos processos de ensino e aprendizagem demandam uma formação inicial e continuada que forneça os subsídios necessários para a realização destes encaminhamentos, bem como adaptações a proposta se mostram pertinentes, de acordo com os objetivos do professor e o nível de ensino, sendo plausível a inserção de ações com temas controversos desde o ensino fundamental a graduação. Tais ações contemplam aspectos importantes na formação do estudante, como o desenvolvimento do pensamento crítico e da expressão oral e escrita, assim como da capacidade de trabalhar em grupo (HODSON, 2018). Esperamos com esta pesquisa, contribuir para a formação profissional dos professores que atuam nos anos iniciais, valorizando suas experiências individuais e coletivas, dando-lhes oportunidade para refletir sobre o ensino da escolaridade básica, com ênfase no compromisso pessoal de participação comunitária, responsável e crítica a partir das questões controversas, visando possíveis contribuições para o ensino de ciências nos primeiros anos de escolaridade.
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