CULTURA POLÍTICA E INTERIORIZAÇÃO DOS GRUPOS ESCOLARES NA PARAÍBA: O GRUPO ESCOLAR GAMA E MELO (1928 -1949)

Resumo

Tendo como norte a cultura política no período entre 1928 à 1949, procuramos entender como se deu a interiorização dos grupos escolares na Paraíba, ou seja, examinaremos o fenômeno de sua implantação nas cidades interioranas. Para tanto, analisamos a implantação do grupo escolar Gama e Melo na cidade de Princesa Isabel (Paraíba, Brasil). Nesse sentido, pretendemos compreender como a cultura política influenciou na alocação, por parte Governo do Estado, dos espaços educacionais no município aludido, em um período de ampla reforma educacional. Cabe ressaltar que este momento de reforma coincide com o persistente e tradicional fenômeno da pessoalidade no contexto das relações encetadas entre o poder central e as demais esferas administrativas. O objeto central da pesquisa é o Decreto Nº 873/17, que regulamentou e normatizou o sistema público de instrução primária da Paraíba, no que concerne à implantação dos grupos escolares. Além disso, examinamos a relação deste documento com as mensagens presidenciais emitidas no mesmo período, bem como as matérias jornalísticas que se referiram à instrução primária e às relações políticas estatais. Para entendermos a conjuntura política e suas implicações utilizamos o trabalho de Lewin (1993), pois abordou as relações interpessoais dos agentes políticos e as relações com os poderes Estadual e Municipal, como também a obra de Gurjão (1994), que nos possibilitou a reflexão sobre as estruturas oligárquicas da Paraíba no início século XX. Para a compreensão da conjuntura econômica, política e social da cidade de Princesa Isabel (Paraíba, Brasil) recorremos aos trabalhos de Mariano (2017; 2018), de Justino Filho (1997), de Rodrigues (1981) e de Inojosa (1980), posto que tais autores desvelam as implicações decorrentes da implantação de aparatos educacionais como projeto político, com o suposto intento de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Infere-se que, apesar de a cidade supracitada ter todos os requisitos regimentares para ser contemplado com um grupo escolar, este fator não foi preponderante e decisivo, uma vez que várias outras cidades dessa região também cumpriam os requisitos basilares, tais como: Cajazeiras, Souza, Pombal, Patos e Catolé do Rocha (todas cidades do interior paraibano). Cumpre salientar que algumas dessas cidades eram mais qualificadas para o recebimento do grupo escolar em comparação com a situação de Princesa Isabel. É certo que na impossibilidade de construir em todas as cidades que atendiam aos requisitos regimentares para serem contempladas com esse modelo escolar, alguns outros critérios deveriam ser levado em consideração, o que não ocorreu. Ao analisar a cronologia da implantação desses estabelecimentos educacionais com o auxílio do estudo de Pinheiro (2002), nota-se que todas as cidades contempladas com os grupos escolares tinham representantes na Assembleia legislativa e gozavam de prestígio social junto ao Governo do Estado, corroborando a tese de Lewin (1993) quando desvela que a cultura política no Estado da Paraíba tinha como base as oligarquias familiares, logo, os laços de sangue e o compadrio eram mais relevantes do que os problemas administrativos e as necessidades gerais da população. Esse era o caso da cidade de Princesa Isabel, que tinha como filho um dos políticos mais influentes do Estado, desse modo, sua rede de socialização se estendia tanto a outros Estados quanto a nível nacional (Inojosa, 1980; Rodrigues, 1981). Parece-nos que a implantação do grupo escolar Gama e Melo foi realizada para reafirmar os laços entre o político princesense e o Governo do Estado, em detrimento do interesse coletivo no campo educacional.