A SAÚDE PROMETIDA ÀS MULHERES EM EXAUSTÃO PSICOLÓGICA
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n11-213Palavras-chave:
Saúde Mental, Mulheres, Sofrimento Social, Gênero, CuidadoResumo
A exaustão psíquica das mulheres não pode ser vista apenas como um problema individual ou clínico: trata-se de um fenômeno social que expressa uma cultura que adoece justamente aquelas de quem exige a sustentação cotidiana da vida. A naturalização histórica das desigualdades de gênero, combinada à precarização estrutural do trabalho e à sobrecarga invisibilizada do cuidado, produz um desgaste que ultrapassa a dimensão orgânica do corpo individual e evidencia um modelo social que mais consome do que restitui. No Brasil, embora o Sistema Único de Saúde seja o maior sistema público do mundo e a Constituição assegure a saúde como direito universal, as mulheres chegam aos serviços já esgotadas, carregando marcas de violência e abandono, e frequentemente encontram respostas fragmentadas, restritas à lógica biomédica. Este artigo, a partir de revisão de literatura, amparado em referenciais da sociologia e da antropologia da saúde, analisa como essa promessa institucional de cuidado se converte em promessa frustrada. O quadro revela não apenas indivíduos em sofrimento, mas uma sociedade que transforma o gênero feminino em alvo privilegiado de estigmatização e exploração. Nesse sentido, argumenta-se que enfrentar a exaustão mental das mulheres implica deslocar o debate para além da responsabilização individual, reconhecendo o cuidado como tarefa política e responsabilidade coletiva, indispensável à construção de uma sociedade menos desigual e menos adoecedora.
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