TRABALHADORES INFORMAIS E O USO DE NOVAS FERRAMENTAS DIGITAIS: FATOR DE RISCO OU PROTEÇÃO PSICOSSOCIAL?

Resumo

A presença crescente da tecnologia em diversos setores da economia tem transformado a maneira como o trabalho é realizado, impactando tanto os trabalhadores formais quanto os informais. Os trabalhadores informais representam uma parcela significativa da força de trabalho em muitos países. Os trabalhadores informais, frequentemente estão inseridos em contextos de maior vulnerabilidade socioeconômica, lidam com desafios estruturais que incluem instabilidade financeira, ausência de direitos trabalhistas e dificuldades de acesso a capacitação profissional. Nesse cenário, o avanço tecnológico pode atuar tanto como um fator de risco quanto como um elemento de proteção psicossocial. O presente trabalho tem como objetivo analisar os efeitos da tecnologia digital sobre a vida de trabalhadores informais a partir de entrevistas com profissionais que atuam em diferentes segmentos do setor informal no Brasil. Com base em uma abordagem qualitativa, busca-se compreender como as ferramentas tecnológicas impactam aspectos objetivos e subjetivos do trabalho informal, a partir de entrevistas realizadas com 22 trabalhadores informais. A análise qualitativa das entrevistas com trabalhadores informais, realizada por meio da Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011), permitiu a construção de cinco categorias temáticas emergentes. (1) tecnologia como facilitadora do trabalho e do empreendedorismo; (2) tecnologia como fator de sobrecarga e intensificação do trabalho; (3) autonomia e construção de identidade profissional; (4) precariedade tecnológica e desafios de profissionalização; e (5) reconstrução de trajetórias por meio da tecnologia. Nesse sentido, é possível afirmar que a tecnologia opera como um campo de possibilidades e tensões, onde os trabalhadores informais articulam suas condições materiais com suas aspirações subjetivas. Ainda que marcadas por precariedades e limites, essas trajetórias revelam formas criativas e resilientes de existência, nas quais o trabalho digitalmente mediado não é apenas uma fonte de renda, mas também um projeto de vida e de futuro. Ao se reconhecerem como produtores, empreendedores e comunicadores, esses Participantes constroem novas formas de estar no mundo, enfrentando desigualdades estruturais com agência, imaginação e sentido.