ALESSANDRA GILIANI: ENTRE O MITO E A PIONEIRA DA ANATOMIA MEDIEVAL — UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA DE SUAS CONTRIBUIÇÕES E LEGADO
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n11-119Palavras-chave:
Alessandra Giliani, Anatomia Medieval, Mondino de Liuzzi, Mulheres na Ciência, HistoriografiaResumo
A figura de Alessandra Giliani (1307–1326), historicamente considerada a primeira mulher registrada como anatomista e patologista, é examinada sob uma perspectiva historiográfica, destacando suas supostas contribuições e o legado simbólico que representa. Apesar da documentação fragmentada, sua trajetória brilha como um emblema do intelecto feminino na ciência medieval, desafiando narrativas tradicionais. Contextualizada na Bolonha do século XIV — importante centro de estudos médicos e local de trabalho de Mondino de Liuzzi —, este artigo detalha as realizações atribuídas a Giliani. Ela é reconhecida como a proseccionista de Mondino, creditada pela técnica inovadora de injetar líquidos coloridos (vermelho nas artérias e azul nas veias) para visualizar o sistema vascular durante dissecações. Tal metodologia, se confirmada, seria precursora da angiografia e da preservação anatômica, revolucionando a compreensão da circulação sanguínea séculos antes das teorias de Harvey. No entanto, a historicidade de Giliani é objeto de debate acadêmico. A escassez de fontes primárias e a dependência de relatos posteriores, como os de Michele Medici e um epitáfio controverso, alimentam o ceticismo. Alguns historiadores, como Paula Findlen, sugerem que Giliani pode ser uma invenção do século XVIII, enquanto outros ponderam a possível destruição de seus registros ou até mesmo a hipótese de que tenha se disfarçado para trabalhar em um campo dominado por homens. Apesar das incertezas factuais, Alessandra Giliani transcende a mera historicidade, consolidando-se como um poderoso símbolo da cientista que rompeu barreiras de gênero. Sua narrativa inspira reflexões sobre o “efeito Matilda” e a necessidade de reavaliar as narrativas científicas para incluir e valorizar as contribuições femininas, servindo como paradigma para as gerações futuras.
Downloads
Referências
Aird, W. C. (2011). Discovering the cardiovascular system: From Galen to William Harvey. Journal of Thrombosis and Haemostasis, 9(Suppl. 1), 118–129. https://doi.org/10.1111/j.1538-7836.2011.04310.x DOI: https://doi.org/10.1111/j.1538-7836.2011.04312.x
Alic, M. (1991). El legado de Hipatia: Historia de las mujeres en la ciencia desde la Antigüedad hasta fines del siglo XIX. Siglo XXI de España Editores.
Blumenfeld-Kosinski, R., & Lindberg, D. C. (Eds.). (2006). The book of the marvels of the world: Women and medieval medicine. University of Chicago Press.
Castiglioni, A. (1941). A history of medicine (E. B. Krumbhaar, Trans.). Knopf. (Original work published 1927) DOI: https://doi.org/10.1097/00000441-194108000-00022
Gender at Stanford. (n.d.). What an Italian feminist forgery reveals about history and memory. Stanford University. Retrieved June 12, 2025, from https://gender.stanford.edu
Gordon, L. (1999). Doctors and medicine in medieval England. Sutton Publishing.
Grafton, A. (1990). Forgers and critics: Creativity and duplicity in Western scholarship. Princeton University Press.
HarperCollins. (n.d.). A golden web. HarperCollins Publishers. Retrieved June 12, 2025, from https://www.harpercollins.com
Lost Women of Science. (n.d.). Alessandra Giliani: Italian anatomist of the 14th century. Retrieved June 12, 2025, from https://www.lostwomenofscience.org
Medici, M. (1857). Compendio storico della Scuola Anatomica di Bologna. Tipografia Governativa.
Museu do Brooklyn. (n.d.). Components of The Dinner Party. Brooklyn Museum. Retrieved June 12, 2025, from https://www.brooklynmuseum.org
Oakes, E. H. (2007). Encyclopedia of world scientists (Rev. ed.). Facts on File.
Park, K. (1990). Doctors in the university: Medicine in medieval Bologna, 1200–1500. In R. Porter & A. Wear (Eds.), The medical renaissance of the sixteenth century. Cambridge University Press.
Park, K. (2006). Women in medieval and early modern medicine: An overview. In The Cambridge history of science: Vol. 3. Early modern science. Cambridge University Press.
Rossiter, M. W. (1993). The Matthew Matilda effect in science. Social Studies of Science, 23(2), 325–341. https://doi.org/10.1177/030631293023002004 DOI: https://doi.org/10.1177/030631293023002004
Sarton, G. (1947). Introduction to the history of science: Vol. 2. From Rabbi Ben Ezra to Roger Bacon. Williams & Wilkins.
Stadler, M. M. (2016, November 7). Alessandra Giliani (1307-1326): Entre cadáveres. Mujeres con ciencia. Retrieved June 12, 2025, from https://mujeresconciencia.com/2016/11/07/alessandra-giliani-1307-1326-cadaveres/
Universitat de Barcelona. (n.d.). Centre de Recursos per a l'Aprenentatge i la Investigació: Alessandra Giliani (1307-1326). La docència de l'anatomia. Retrieved from https://crai.ub.edu/coneix-el-crai/biblioteques/biblioteca-medicina/exposicio-virtual-anatomia/disciplina#giliani