ENTRE A FRUTA E O DESEJO: ANÁLISE SEMÂNTICA E DISCURSIVA DA CANÇÃO MORENA TROPICANA DE ALCEU VALENÇA
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n10-273Palavras-chave:
Semântica, Análise do Discurso, Música Popular Brasileira, Alceu Valença, ErotismoResumo
Este artigo apresenta uma análise semântica e discursiva da canção Morena Tropicana, de Alceu Valença, buscando compreender como o léxico, as metáforas e as isotopias de desejo constroem sentidos associados ao erotismo, à sensualidade e à identidade cultural nordestina. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e interpretativo, fundamentada nos aportes teóricos da semântica estrutural Greimas (1973), Pottier (1978) e da análise do discurso Orlandi (2001), Maingueneau (2008). A metodologia consistiu em levantamento bibliográfico e exame do corpus, a letra da canção, por meio da identificação de campos lexicais, isotopias semânticas e cenografias discursivas. O objetivo central é analisar como a canção mobiliza símbolos tropicais e sensações físicas (fruta, cor, sabor) que, por meio da conotação, são transfigurados em metáforas eróticas e identitárias. A justificativa para o estudo reside na relevância da Música Popular Brasileira como espaço de construção de sentidos culturais e sociais, em que a linguagem poética se articula à memória discursiva e às práticas de oralidade. Do ponto de vista etimológico e cultural, a expressão “manga rosa” refere-se a uma variedade da fruta Mangifera, originária do sul da Ásia e incorporada ao Brasil no período colonial. Essa variedade, de coloração avermelhada e sabor adocicado, passou a integrar o imaginário cultural brasileiro, associada à fertilidade, abundância e desejo. No Maranhão, a manga rosa adquire relevância particular: o estado figura entre os maiores produtores da fruta e sua presença em feiras, mercados e práticas alimentares reforça a conexão entre natureza tropical, erotismo e identidade regional. Portanto, a articulação entre semântica e análise do discurso permite compreender Morena Tropicana como um texto artístico que ultrapassa a dimensão literal da linguagem, transformando signos cotidianos em metáforas de desejo, erotismo e identidade cultural.
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