NARCISISMO ARTIFICIAL - INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A ONIPOTÊNCIA DO EU
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n10-064Palavras-chave:
Inteligência Artificial, Narcisismo, Identificação, Transferência, PsicanáliseResumo
Esse artigo analisa os efeitos subjetivos da interação entre usuários e sistemas de Inteligência Artificial (IA), considerando a hipótese de que essas tecnologias operam como próteses psíquicas na dinâmica narcísica. A investigação propõe o conceito de "narcisismo artificial" para designar um modo específico de relação em que a IA simula presença e reconhecimento, sem introduzir frustração ou alteridade. Tal configuração favorece a repetição de padrões imaginários de completude e onipotência, limitando a transição para relações simbólicas e objetais mais complexas. A pesquisa foi desenvolvida com base em método teórico-conceitual, articulando categorias psicanalíticas com exemplos contemporâneos do uso da IA. Foram examinados fenômenos como espelhamento, projeção e simulação na interação com essas tecnologias, com ênfase em como esses processos afetam a experiência do Eu e a constituição da realidade psíquica. Argumenta-se que, ao reforçar fantasias de controle absoluto e evitar a experiência da perda, a IA cristaliza posições regressivas que comprometem a elaboração subjetiva. Conclui-se que o vínculo estabelecido com a IA não deve ser compreendido apenas em termos funcionais ou técnicos, mas como expressão de um novo tipo de laço psíquico. Esse laço, ao invés de promover simbolização, tende a repetir dinâmicas de fusão e dependência narcísica, com implicações clínicas e sociais relevantes. O trabalho propõe uma escuta atenta a esses efeitos na prática clínica e sugere a ampliação do debate psicanalítico frente às transformações subjetivas associadas ao avanço tecnológico.
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