AUTOGESTÃO PRODUTIVA E SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA EM COOPERATIVAS DE RECICLAGEM: ESTUDO DE CASO E ANÁLISE DA GOVERNANÇA PARTICIPATIVA NO INTERIOR PAULISTA

Autores

  • Fernando Rodrigo de Souza Autor

DOI:

https://doi.org/10.56238/arev7n12-120

Palavras-chave:

Autogestão Econômica, Economia Solidária, Reciclagem, Políticas Públicas, Sustentabilidade

Resumo

Este estudo examina a dinâmica socioprodutiva e a sustentabilidade sistêmica de uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis localizada em um município de médio porte no interior paulista, com foco nos resultados operacionais, ambientais e sociais alcançados. A investigação, de abordagem qualitativa e delineamento descritivo-exploratório, baseou-se em estudo de caso único apoiado em observação direta, análise documental e registros administrativos coletados entre janeiro e julho de 2024. A triangulação das evidências e a saturação temática asseguraram a consistência analítica dos achados. Os resultados quantitativos demonstram a expressiva capacidade produtiva da cooperativa: o volume mensal processado variou entre 28 e 32 toneladas, o que resultou na mitigação estimada de 35 a 40 toneladas de CO₂ equivalente por mês. Do ponto de vista econômico, o faturamento mensal oscilou entre R$ 25.000 e R$ 45.000, com custos operacionais médios entre R$ 12.000 e R$ 20.000, permitindo renda mensal de aproximadamente R$ 1.300 a R$ 1.500 por cooperado. Socialmente, a organização assegura inclusão produtiva a cerca de 45 trabalhadores e promove ações de caráter educativo que alcançam mais de mil pessoas ao ano. Além dos indicadores técnicos, observou-se que a cooperativa desempenha funções que ultrapassam a esfera produtiva, assumindo papel relevante na formação cidadã, na educação ambiental e no fortalecimento de vínculos comunitários. A análise integrada evidencia que a experiência constitui um arranjo socioprodutivo capaz de combinar eficiência operacional, impacto ambiental positivo e inclusão social, ainda que condicionado por limitações estruturais e pela ausência de políticas públicas contínuas. O estudo reforça a relevância das cooperativas como agentes estratégicos na economia circular e na gestão sustentável dos resíduos sólidos urbanos.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ABREMA – Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente. (2024). Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2024. Recuperado em 11 de novembro de 2025, de https://www.abrema.org.br/panorama/

Amato, C. N., Buraschi, M., & González, S. D. (2024). Waste pickers’ cooperatives: Social and environmental impacts in the recycling value chain in Córdoba, Argentina. Development in Practice, 34(5), 537–554. https://doi.org/10.1080/09614524.2024.2355550

Berticelli, R., Decesaro, A., Pandolfo, A., & Pasquali, P. B. (2020). Contribuição da coleta seletiva para o desenvolvimento sustentável municipal. Revista Em Agronegócio E Meio Ambiente, 13(2), 781–796. https://doi.org/10.17765/2176-9168.2020v13n2p781-796

Besen, G. R., Jacobi, P. R., Cavalcante, S., & Medeiros, A. R. (2014). Coleta seletiva na Região Metropolitana de São Paulo: Impactos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ambiente & Sociedade, 17(1), 259–278. Recuperado em 18 de junho de 2025, de https://www.scielo.br/j/asoc/a/Znmt43xbcJ8jN6yLDj6mgtv/?format=pdf&lang=pt

Bezerra, A. K. L., Rocha, P. H. F., & Moita Neto, J. M. (2020). Resíduos Sólidos: A má gestão pública como problema ambiental. Veredas do Direito. Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, 17(39). https://doi.org/10.18623/rvd.v17i39.1694

Brasil. (2010). Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010: Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da União. Recuperado em 11 de novembro de 2025, de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm

Brasil. Ministério das Cidades. (2022). Manejo dos resíduos sólidos urbanos. Recuperado em 11 de novembro de 2025, de https://www.gov.br/cidades/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/saneamento/snis/painel/rs

Calvão, F. (2013). Anthropologies of recycling: The view from the global south. Current Anthropology, 54(S8), S120–S132. https://doi.org/10.1086/670392

Denzin, N. K., & Lincoln, Y. S. (2018). The SAGE handbook of qualitative research (5th ed.). Sage Publications.

Flick, U. (2014). Introdução à pesquisa qualitativa (3ª ed.). Artmed.

Geissdoerfer, M., Pieroni, M. P. P., Pigosso, D. C. A., & Soufani, K. (2020). Circular business models: A review. Journal of Cleaner Production, 277, 123741. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.123741

Ghisellini, P., Cialani, C., & Ulgiati, S. (2016). A review on circular economy: The expected transition to a balanced interplay of environmental and economic systems. Journal of Cleaner Production, 114, 11–32. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2015.09.007

Gil, A. C. (2017). Métodos e técnicas de pesquisa social (7ª ed.). Atlas.

González-Sánchez, R., Alonso-Muñoz, S., & Medina-Salgado, M. S. (2023). Research proposal and trends on circular waste management for the 2030 Agenda. SpringerLink. https://doi.org/10.1007/s12063-023-00373-0

Gutberlet, J. (2021). Grassroots waste picker organizations addressing the UN sustainable development goals. World Development, 138, 105195. https://doi.org/10.1016/j.worlddev.2020.105195

Hayek, F. A. (2010). O caminho da servidão. LVM Editora.

Hobson, K., & Lynch, N. (2016). Diversifying and de-growing the circular economy: Radical social transformation in a resource-scarce world. Futures, 82, 15–25. https://doi.org/10.1016/j.futures.2016.05.012

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2024). Síntese de indicadores sociais. Recuperado em 11 de novembro de 2025, de https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9221-sintese-de-indicadores-sociais.html

Kalmykova, Y., Rosado, L., & Patrício, J. (2016). Resource consumption drivers and pathways to reduction: Economy, policy and lifestyle impact on material flows at the national and urban scale. Journal of Cleaner Production, 132, 70–80. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2015.02.027

Keynes, J. M. (2012). Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (Ed. revisada). Saraiva Uni.

Kirchherr, J., & Piscicelli, L. (2023). Conceptualizing the circular economy (revisited). Journal of Cleaner Production, 421(138454), 138454. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2023.138454

Kirchherr, J., Piscicelli, L., Bour, R., Kostense-Smit, E., Muller, J., Huibrechtse-Truijens, A., & Hekkert, M. (2018). Barriers to the circular economy: Evidence from the European Union (EU). Ecological Economics, 150, 264–272. https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2018.04.028

Kotyal, K. (2023). Sustainable waste management in the circular economy: Challenges and opportunities. Environmental Reports, 5(2), 87–102. https://doi.org/10.1016/j.envrep.2023.100254

Leonard, A. (2011). A história das coisas: Da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos. Zahar.

Liu, J., Wang, Y., & Chen, M. (2024). Multilevel governance for solid waste management in developing countries. Waste Management, 178, 137–149. https://doi.org/10.1016/j.wasman.2024.05.017

London, B. (1932). Ending the depression through planned obsolescence. New York. http://consumertrap.com/wp-content/uploads/2010/12/London.pdf

Maiello, A., Britto, A. L. N. de P., & Valle, T. F. (2018). Implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Revista de administração pública, 52(1), 24–51. https://doi.org/10.1590/0034-7612155117

Minayo, M. C. S. (2014). O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde (14ª ed.). Hucitec.

Möslinger, M., Ulpiani, G., & Vetters, N. (2023). Circular economy and waste management to empower a climate-neutral urban future. Journal of Cleaner Production, 421(138454), 138454. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2023.138454

Ostrom, E. (2015). Governing the commons: The evolution of institutions for collective action. Cambridge University Press.

Pereira, A., Secco, L. D. P., & Carvalho, A. (2014). A participação das cooperativas de catadores na cadeia produtiva dos materiais recicláveis: perspectivas e desafios. Revista Psicologia Política, 14(29), 171–186. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2014000100012&lng=pt&tlng=pt.

Pisano, A. M., Demajorovic, J., & Besen, G. R. (2022). Governance arrangements and performance of municipal solid waste cooperatives: Evidence from Brazil. Waste Management, 141, 156–165. https://doi.org/10.1016/j.wasman.2022.01.014

Pisano, V., Demajorovic, J., & Besen, G. R. (2024). Sustainability indicators and network of cooperatives of waste pickers: An impact evaluation of the performance of cooperative members. Cadernos EBAPE BR, 22(5). https://doi.org/10.1590/1679-395120230107x

Polanyi, K. (2000). A grande transformação: As origens da nossa época. Campus.

Santos, B. S. (2009). Para um novo senso comum: A ciência, o direito e a política na transição paradigmática (Vol. 1). Cortez.

Scheinberg, A., Nesić, J., Savain, R., Luppi, P., Sinnott, P., Petean, F., & Pop, F. (2016). From collision to collaboration: Integrating informal recyclers and re-use operators in Europe: A review. Waste Management & Research, 34(9), 820–839. https://doi.org/10.1177/0734242X16657608

Schroeder, P., Anggraeni, K., & Weber, U. (2019). The relevance of circular economy practices to the Sustainable Development Goals: Circular economy and SDGs. Journal of Industrial Ecology, 23(1), 77–95. https://doi.org/10.1111/jiec.12732

Sen, A. (2010). Desenvolvimento como liberdade. Companhia das Letras.

Serrano-Bedia, A.-M., & Pérez-Pérez, M. (2022). Transition towards a circular economy: A review of the role of higher education as a key supporting stakeholder in Web of Science. Sustainable Production and Consumption, 31, 82–96. https://doi.org/10.1016/j.spc.2022.02.001

Singer, P. (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo.

Singer, P. (2018). Ensaios Sobre Economia Solidária. Almedina Brasil.

Singer, P. (2022). Economia solidária: Introdução, história e experiência brasileira. Editora Unesp.

Sun, D., Hao, L., & Xie, D. (2024). Governance of rural solid waste under a multi-subject governance model. Scientific Reports, 14(1), 27111. https://doi.org/10.1038/s41598-024-78732-5

Tura, N., Hanski, J., Ahola, T., Ståhle, M., Piiparinen, S., & Valkokari, P. (2019). Unlocking circular business: A framework of barriers and drivers. Journal of Cleaner Production, 212, 90–98. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.11.202

Valente, D. B., Guabiroba, R. C. S., Conejero, M. A., da Silva, M. A. V., & César, A. S. (2021). Economic analysis of waste electrical and electronic equipment management: a study involving recycling cooperatives in Brazil. Environment Development and Sustainability, 23(12), 17628–17649. https://doi.org/10.1007/s10668-021-01403-2

Whalen, K. A., Berlin, C., Ekberg, J., Barletta, I., & Hammersberg, P. (2018). ‘All they do is win’: Lessons learned from use of a serious game for circular economy education. Resources, Conservation and Recycling, 135, 335–345. https://doi.org/10.1016/j.resconrec.2017.06.021

Yin, R. K. (2015). Estudo de caso: Planejamento e métodos (5ª ed.). Bookman.

Zanin, M., & Oliveira, L. D. P. D. S. (2023). Cooperativas de catadoras e catadores de materiais recicláveis e o desafio da comercialização das embalagens plásticas. ORG & DEMO, 24, e023013.

Downloads

Publicado

2025-12-11

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

DE SOUZA, Fernando Rodrigo. AUTOGESTÃO PRODUTIVA E SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA EM COOPERATIVAS DE RECICLAGEM: ESTUDO DE CASO E ANÁLISE DA GOVERNANÇA PARTICIPATIVA NO INTERIOR PAULISTA. ARACÊ , [S. l.], v. 7, n. 12, p. e10978 , 2025. DOI: 10.56238/arev7n12-120. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/10978. Acesso em: 13 dez. 2025.