SUSCETIBILIDADE DE POPULAÇÕES DE SPODOPTERA FRUGIPERDA (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) DO MARANHÃO, TOCANTINS, PIAUÍ E BAHIA A CULTIVARES DE MILHO TRANSGÊNICO COM TOXINAS CRY/VIP DE BACILLUS THURINGIENSIS
DOI:
https://doi.org/10.56238/edimpacto2025.015-004Palabras clave:
Lagarta-do-cartucho, Manejo de insetos, Matopiba, Proteínas inseticidas, Zea maysResumen
Em alguns países, a utilização de cultivares transgênicos de milho, algodão e soja aumentou bastante nos últimos anos, alcançando níveis de adoção acima de 90% em muitas regiões, impondo intensa pressão de seleção para resistência nas populações dos insetos alvo. A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), é um inseto polífago e migratório de importância econômica global. Suas populações no Brasil representam um dos principais alvos de controle das proteínas inseticidas (toxinas) de Bacillus thuringiensis Berliner (Bt) produzidas em cultivares transgênicos. Além disso, a maioria desses cultivos recebem aplicações de inseticidas sintéticos contra um universo complexo de insetos-praga e é baixa a adoção de áreas de refúgio não-Bt. Diversos cultivares de milho Bt das primeira e segunda gerações (com toxinas Cry tais como Cry1F, Cry1Ab e Cry1A.105 + Cry2Ab2) perderam eficácia contra populações de S. frugiperda pela seleção de resistência a Bt. Atualmente, relatos levam a suspeita que falhas de controle da S. frugiperda associadas ao evento de resistência também acomete as atuais cultivares de milho Bt de terceira geração, que produzem conjuntamente as toxinas Vip e Cry. Apesar da toxina Vip originalmente apresentar eficácia contra as lagartas resistentes às toxinas Cry, pelo menos as lagartas nos estágios iniciais, a perda da eficácia dessas toxinas torna os milhos Bt Vip/Cry mais vulneráveis à seleção de resistência a Bt nas populações de S. frugiperda. Assim, é crucial obter dados regionais e confiáveis da suscetibilidade das populações do inseto para informar tomadas de decisão sobre práticas de manejo. O primeiro objetivo neste estudo foi investigar o status de suscetibilidade de populações de campo de S. frugiperda de locais com pressão de seleção com milho Bt Vip/Cry por mais de cinco anos. Utilizou-se bioensaios de tempo-mortalidade com lagartas de terceiro ínstar descendentes F1 de seis populações coletadas em campos de milho da região MATOPIBA, uma fronteira agrícola tropical que abrange quatro estados brasileiros, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Os insetos foram avaliados em bioensaios longitudinais tempo-mortalidade. O tempo para morte das lagartas de terceiro ínstar de S. frugiperda foi relativamente curto, com taxas de mortalidade de 98–100% em menos de cinco dias, independentemente do híbrido de milho Bt contendo três combinações de Cry1Ab, Cry1F, Cry2Ab e Vip3Aa. No entanto, o tempo médio de sobrevivência (ST50) das lagartas diferiu entre as populações, com os valores mais baixos e mais altos de ST50 ocorrendo para as populações PI-Cr (42 h ou 1,75 dias) e PI-Ur (66–90 h ou 2,75–3,75 dias), respectivamente. Portanto, as lagartas de terceiro ínstar da geração F1 das populações de S. frugiperda foram suscetíveis à folhagem de milho que produz Vip3Aa/Cry, e a suscetibilidade mais contrastante ocorreu nos insetos do estado do Piauí. Esses resultados indicam que a progênie de S. frugiperda de áreas altamente pressionadas com híbridos de milho Bt Vip3Aa/Cry é morta na folhagem de milho que produz proteínas Bt Vip3Aa e Cry, apesar dos relatos de campo de aumento de injúrias foliares pelas lagartas em algumas localidades. Diante desses resultados e das reclamações de produtores e técnicos, surgiu o questionamento se há alteração na suscetibilidade às toxinas Bt em outros instares larvais do inseto, principalmente aqueles mais tardios, supostamente mais tolerantes a Bt. Assim, o segundo capítulo teve por objetivo investigar se há variação na sobrevivência larval do primeiro ao quarto instar das lagartas de S. frugiperda, utilizando a geração F1 de cinco populações geograficamente distintas coletadas em campos de milho da região do MATOPIBA. Observou-se variação na suscetibilidade nos demais instares avaliados, evidenciada nas curvas de sobrevivência e na mortalidade após sete dias de contato das lagartas com a folhagem dos milhos Bt. As maiores variações e o menor percentual de mortalidade foram encontrados na população da Bahia de quarto instar e na população de Piauí-Ur no primeiro e quarto instar e houve heterogeneidade no padrão de mortalidade entre os instares dependendo do tipo milho Bt e da população do inseto. Portanto, não se detectou diminuição da suscetibilidade dos insetos nos instares tardios, reforçando a conclusão geral de suscetibilidade das populações coletados nos estados do MATOPIBA. Os resultados deste estudo auxiliam no entendimento do risco de evolução da resistência a Vip3A e no refinamento de modelos matemáticos para o uso sustentável das culturas Bt, ferramenta de manejo de insetos segura à saúde humana e ao meio ambiente. Mais estudos serão necessários para investigar a indesejável presença e injúria de S. frugiperda nos cultivos de milho a geração de ferramentas para o manejo da resistência de S. frugiperda ao milho Bt.