ENTRE O CÓDICE E A PLATAFORMA; OS DESAFIOS DA DIGITALIZAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES SOBRE O CMSP, A AUTONOMIA DOCENTE E A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NO SÉCULO XXI
Palavras-chave:
Digitalização, Plataformização, CMSP, Ensino de HistóriaResumo
A pandemia de Covid-19 acelerou os processos de digitalização e reorganização estrutural da educação, revelando desigualdades históricas no Brasil, especialmente no acesso às tecnologias digitais. Como resposta emergencial, o Governo de São Paulo criou o Centro de Mídias de São Paulo (CMSP), inicialmente destinado a garantir a continuidade do ensino durante o isolamento social. No entanto, a plataforma ultrapassou seu caráter provisório e consolidou-se como eixo central da política educacional paulista, instaurando um modelo baseado na plataformização e na substituição dos materiais impressos por conteúdos digitais multimodais. Este ensaio analisa os impactos dessa transformação no ensino de História a partir de dois eixos: a mudança de suporte, do impresso ao digital, e a reconfiguração da autonomia docente. Inspirando-se em autores como Chartier, Manguel, Goulemot, Darnton, Santaella e Rüsen, bem como em estudos recentes sobre o trabalho docente no Brasil; argumenta-se que a leitura em telas reorganiza os gestos interpretativos, tornando-os mais fragmentados, enquanto a lógica das plataformas intensifica o controle, burocratiza a prática pedagógica e reduz o professor a executor de conteúdos pré-formatados. No caso da História, essa dupla transformação ameaça a constituição da consciência histórica genética (Rüsen), que depende da mediação crítica do professor e da leitura reflexiva de fontes. Conclui-se que a digitalização e a plataformização, embora irreversíveis, não podem ser naturalizadas: sua apropriação deve estar vinculada à valorização docente, à inclusão digital crítica e à preservação da pluralidade pedagógica, sob pena de empobrecer a formação histórica e cidadã dos estudantes.