O QUE É VEGANISMO? RESISTÊNCIA SOCIOCULTURAL AO ESPECISMO ESTRUTURAL E RECONFIGURAÇÃO ESPACIAL
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n9-183Palavras-chave:
Antropologia do Espaço, Especismo Estrutural, Plantationoceno, Produção do Espaço, VeganismoResumo
O veganismo é um movimento sociocultural-identitário, ético-político e espacial que enfrenta o especismo estrutural e as continuidades coloniais do Plantationoceno. Ser vegano vai além de renunciar ao que se come ou se veste; trata-se de uma escolha coerente e consciente sobre como se vive e com quem se escolhe compartilhar o mundo. A compreensão desse fenômeno se dá por meio de uma abordagem antropológica de caráter teórico-conceitual, na qual se examinam três planos de espacialização: práticas cotidianas que reorganizam o espaço vivido e os circuitos de consumo; ações intencionais, como ocupações e ativismos, que instituem zonas de contestação; e territorialidades digitais que disputam narrativas e reconfiguram o espaço simbólico. A articulação desses planos produz lugares veganos, não-lugares de exploração animal, heterotopias de Foucault e Zonas Autônomas Temporárias de Bey, conectados por contracartografias que revelam periferias humanas e espaços de exploração animal. A síntese das teorias espaciais de Harvey e Lefebvre demonstra que tais zonas reterritorializam fluxos de alimentos, trabalho e afetos, ampliando a justiça socioambiental e interespécies. Propõem-se quatro eixos éticos: justiça para seres sencientes; recusa da exploração animal; reconhecimento da interdependência ecológica; e moralização do consumo e do habitus. Conclui-se que o veganismo atua como força cultural transformadora, reorganizando dinâmicas socioculturais e espaciais e inspirando novas investigações etnográficas sobre os impactos dos diferentes planos de espacialização na economia e na sociabilidade locais.
Downloads
Referências
ADAMS, Carol J. A política sexual da carne: uma teoria feminista-vegetariana. São Paulo: Alaúde Editorial, 2018.
ANDA - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS. Manifesto pelos animais ou porque sou contra a interseccionalidade. 4 dez. 2015. Disponível em: https://anda.jor.br/2015/12/04/manifesto-animais-interseccionalidade. Acesso em: 30 abr. 2025.
AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Tradução de Maria Lúcia Pereira. Campinas, SP: Papirus, 1994. (Coleção Travessia do Século).
BEY, Hakim. The Temporary Autonomous Zone, Ontological Anarchy, Poetic Terrorism. 2. ed. Brooklyn, NY: Autonomedia, 2003.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Tradução de Inês A. D. Barbosa. São Paulo: Edusp, 2007.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.
DE BOO, Jasmijn; HOUSE, D. W.; CALVERT, S. Ripened by human determination: 70 years of The Vegan Society. The Vegan Society, p. 1-17, 2014. Disponível em: https://www.vegansociety.com/sites/default/files/uploads/Ripened%20by%20human%20determination.pdf. Acesso em: 30 abr. 2025.
FRANCO, Annibal Gouvêa; BATISTA, Melissa Marcílio. ESG e veganismo: integração das práticas sustentáveis à cadeia produtiva. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, ano 09, ed. 05, vol. 01, p. 96-109, maio de 2024. ISSN 2448-0959. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/meio-ambiente/esg-e-veganismo. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/meio-ambiente/esg-e-veganismo
FRANCO, Annibal Gouvêa; BATISTA, Melissa Marcílio. O veganismo como fenômeno cultural e identitário: uma perspectiva antropológica. ARACÊ, [S. l.], v. 7, n. 3, p. 12478-12495, 2025. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/3852. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.56238/arev7n3-136
FOUCAULT, Michel. De espaços outros. Estudos Avançados, v. 27, n. 79, p. 113-122, 2013. Tradução de Maria Lúcia Pereira. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/68705. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300008
FERDINAND, Malcom. Uma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho. São Paulo: Ubu Editora, 2022.
HAESBAERT, Rogério. Território. GEOgraphia, Niterói, v. 25, n. 55, 2023. Disponível em: https://www.periodicos.uff.br/geographia/article/view/61073. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2023.v25i55.a61073
HARVEY, David. O espaço como palavra-chave. Em Pauta, v. 13, n. 35, p. 126-152, 2015. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaempauta/article/view/18625. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.12957/rep.2015.18625
HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974.
HOLMES, Brian. Activist Research. Continental Drift, 17 mar. 2008. Disponível em: https://brianholmes.wordpress.com/2008/03/17/activist-research/. Acesso em: 30 abr. 2025.
HORTA, Oscar; ALBERSMEIER, Frauke. Defining speciesism. Philosophy Compass, v. 15, n. 11, p. 1-9, 2020. Disponível em: https://compass.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/phc3.12708. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.1111/phc3.12708
JOY, Melanie. Powerarchy: understanding the psychology of oppression for social transformation. Oakland: Berrett-Koehler Publishers, 2019.
LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Tradução de Doralice Barros Pereira; Sérgio Martins. Tradução da 4ª ed. francesa: Éditions Anthropos, 2000; 1ª versão: fev. 2006. Disponível em: https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf. Acesso em: 30 abr. 2025.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O cru e o cozido. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Cosac Naify, 2004 [1964]. Mitológicas, v. 1.
MACE, Jenny L.; McCULLOCH, Steven P. Yoga, ahimsa and consuming animals: UK yoga teachers’ beliefs about farmed animals and attitudes to plant-based diets. Animals, v. 10, n. 3, p. 480, 2020. Disponível em: https://www.mdpi.com/2076-2615/10/3/480. Acesso em: 14 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.3390/ani10030480
MATHENY, Gaverick. Least harm: a defense of vegetarianism from Steven Davis’s omnivorous proposal. Journal of Agricultural and Environmental Ethics, v. 16, n. 5, p. 505-511, 2003. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1023/A:1026354906892. Acesso em: 14 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.1023/A:1026354906892
NIBERT, David A. Animal oppression and human violence: domesecration, capitalism, and global conflict. New York: Columbia University Press, 2013.
OPENAI. ChatGPT (versão GPT-4). San Francisco: OpenAI, 2025. Disponível em: https://chat.openai.com. Acesso em: 30 abr. 2025.
SINGER, Peter. Animal liberation: the definitive classic of the animal movement. Rev. ed. New York: HarperCollins, 2015.
SPENCER, Colin. Vegetarianism: a history. London: Grub Street, 2016.
SUEUR, Cédric. Speciesism, anti-speciesism and animal rights. Flash eNews: the EAAP Newsletter, n. 167, 2019. Disponível em: https://hal.science/hal-03820300/. Acesso em: 30 abr. 2025.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
RYDER, Richard D. Speciesism again: the original leaflet. Critical Society, v. 2, n. 1, p. 2, 2010. Disponível em: https://www.veganzetta.org/wp-content/uploads/2013/02/Speciesism-Again-the-original-leaflet-Richard-Ryder.pdf. Acesso em: 14 jun. 2025.
THE VEGAN SOCIETY. Definition of veganism. 2025a. Disponível em: https://www.vegansociety.com/go-vegan/definition-veganism. Acesso em: 30 abr. 2025.
THE VEGAN SOCIETY. Memorandum and Articles of Association. 2025b. Disponível em: https://www.vegansociety.com/about-us/further-information/memorandum-and-articles-association. Acesso em: 30 abr. 2025.
VARGAS, Heliana Comin; PAIVA, Ricardo Alexandre (orgs.). Terciário, arquitetura e cidade na era digital: permanências e transformações. Fortaleza: SEBRAE; Expressão Gráfica e Editora, 2021.
WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Tradução de José Marcos Mariani de Macedo. Edição de Antônio Flávio Pierucci. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
WHITRIDGE, Peter. Landscapes, houses, bodies, things: “place” and the archaeology of Inuit imaginaries. Journal of Archaeological Method and Theory, v. 11, p. 213-250, 2004. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1023/B:JARM.0000038067.06670.34. Acesso em: 30 abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.1023/B:JARM.0000038067.06670.34