ENTRE O CORPO E O ESPÍRITO: SAÚDE E DOENÇA NO CULTO À JUREMA SAGRADA
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n7-347Palavras-chave:
Interdisciplinariedade, Antropologia, Ciências Sociais em SaúdeResumo
Este estudo investiga as inter-relações entre saúde e espiritualidade no culto à Jurema Sagrada, tradição religiosa de forte matriz indígena no Nordeste brasileiro. Justifica-se pela escassa visibilidade acadêmica concedida aos sistemas de cuidado oriundos de povos tradicionais, ainda marginalizados por narrativas biomédicas e eurocêntricas (Mignolo, 2017; Bezerra et al., 2023). O objetivo central é descrever, por meio de diários de bordo etnográficos, como as práticas ritualísticas na Casa Mestre Zé do Beco, em Pesqueira-PE, articulam percepções de saúde, doença e cura. Fundamentado em aportes da antropologia médica e em teorias críticas decoloniais (Ayres, 2004; Walsh, 2009), o trabalho evidencia a Jurema como tecnologia ancestral que integra corpo, espírito e comunidade, contrapondo-se à fragmentação do modelo biomédico. Trata-se de um relato porque nasce das minhas próprias escrevivências enquanto pesquisador, simultaneamente Juremeiro e enfermeiro, a partir das experiências em campo, capturando dimensões subjetivas e simbólicas do cuidado que não poderiam emergir por metodologias exclusivamente quantitativas. Os resultados, extraídos dos diários, revelam como rituais da Jurema transcendem o físico, estabelecendo espaços comunitários de escuta, acolhimento e recomposição energética. Tais práticas reafirmam a Jurema enquanto patrimônio imaterial e dispositivo político de resistência, promovendo um cuidado integral que incorpora o bem-estar emocional, espiritual e social. Conclui-se que valorizar saberes ancestrais no âmbito do SUS representa um ato de justiça epistemológica, capaz de ampliar as possibilidades de cura e fortalecer identidades historicamente vulnerabilizadas.