A CULTURA DA PRÁTICA TRADICIONAL DAS MARCENARIAS DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS E SUA INFLUÊNCIA NA SEGURANÇA DO TRABALHO
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev6n3-229Palavras-chave:
Cultura, Acidente de Trabalho, Marceneiro, Aprendizado, NarrativasResumo
Em diversas cidades brasileiras, a fabricação de móveis de madeira é realizada em marcenarias, as quais fazem parte da cultura tradicional e popular brasileira. Nesta atividade, o uso de diversas máquinas e equipamentos são constantes e oferecem diversos riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, sendo os principais agentes: ruído e vibração das máquinas, pó de Placa de fibra de média densidade (MDF) e de madeira serrada, tintas e resinas, movimentos repetitivos e lesões diretas. No Brasil, a estatística de acidentes, passa de 500.000 acidentes por ano, estes, muitas vezes têm como consequências incapacitações temporárias ou permanentes, além de consequências sociais e psicológicas. Em diversos estudos, os resultados apontam para uma alta acidentalidade nas marcenarias. A partir deste entendimento, o objetivo desta pesquisa foi de verificar a possível influência da cultura no modo de trabalho atual dos marceneiros em relação às questões de Segurança e Saúde do Trabalho (SST), com base nas entrevistas com 14 marceneiros do município de Palmeira dos Ìndios - Alagoas, através da aplicação de questionário semiestruturado com perguntas fechadas e abertas. Foi verificado que cerca de 71 % dos marceneiros aprenderam a prática tradicional da marcenaria com idade inferior a 18 anos, isso significa que ainda eram menores de idade. 100 % deles aprenderam por meio de marceneiros mais experientes, ou seja, não participaram de cursos profissionalizantes na área de atuação e 90 % aprenderam com marceneiros que não utilizavam regularmente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Foi verificado que 90 % dos marceneiros não utilizavam regularmente os EPIs, apesar de 100 % conhecerem os riscos e já terem sofrido algum tipo de acidente, sendo que 65 % já participaram de palestras ou treinamentos de capacitação junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) durante sua vida profissional. Nesta resistência ao uso de EPIs há uma forte tendência de ter como causa a cultura de influência do modo como eles aprenderam a profissão, visto que 80 % dos marceneiros, em suas falas, afirmaram que o não uso da proteção individual, de forma regular, se dá pelo fato de terem aprendido com pessoas que não utilizavam EPIs. Dessa forma, chega-se a um entendimento que, mesmo participando de capacitações durante sua profissão, e a consciência dos diversos riscos inerentes à SST, os marceneiros escolheram desconsiderar os riscos e não se protegerem. Esses resultados reforçam a tese de que a cultura, em específico o modo do aprendizado, influenciou diretamente na tomada de decisão dos marceneiros em não se protegerem em questões de SST, levando a uma certa banalização dos riscos a qual tem como consequências um alto índice de acidentalidade .