SABERES QUE CURAM – A FARMÁCIA QUILOMBOLA E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO CUIDADO INFANTIL
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n4-199Palabras clave:
Saberes Quilombolas, Cuidado Infantil, Cura, Corpo-TerritórioResumen
Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre os saberes tradicionais quilombolas relacionados ao uso de plantas medicinais no cuidado infantil, compreendendo-os como práticas de resistência, cura e transmissão intergeracional de conhecimento. Em meio a uma história marcada por apagamentos, criminalizações e deslegitimação dos sistemas médicos tradicionais, as comunidades quilombolas mantêm vivas formas ancestrais de cuidado que articulam corpo, território, espiritualidade e saúde. Nesse sentido, o estudo tem como objeto de pesquisa a farmácia viva quilombola, com foco nos modos como mães, avós, parteiras e raizeiras manejam os recursos naturais para tratar doenças e fortalecer a saúde das crianças. A pesquisa parte da seguinte pergunta: Como os saberes medicinais quilombolas são mobilizados no cuidado à infância e quais tensões se estabelecem entre esse conhecimento ancestral e os discursos biomédicos hegemônicos? Teoricamente, fizemos uso dos trabalhos de Zhang (2002), Grmek (1991), Lima e Moura Junior (2024), Pessoa e Maton (2024), Melo (2021), Vanini (2010), Farmer (2003), Kleinman, Basilico, Kim e Farmer (2013), Scheper-Hughes (1993), Lévi-Strauss (1966; 1978; 2004), Fabian (1983; 2014), Turner (1991), Shiva (1999), Brito et al. (2024), Mendes e Cavas (2018), Rodrigues, Paneto e Severi (2018), Sperry et al. (2018), Ravazoli et al. (2018), Oliveira et al. (2024), Almeida (2011), Cunha (2018), Wagner (1981), entre outros. A pesquisa é de cunho qualitativa a partir de Minayo (2007), descritivo e bibliográfica conforme Gil (2008) e realizou-se a análise dos dados a partir da perspectiva compreensiva de Weber (1949). Os achados desta pesquisa revelam que os saberes medicinais quilombolas mobilizados no cuidado infantil articulam práticas de cura física e espiritual, sustentadas por vínculos intergeracionais e por uma lógica de cuidado coletiva e territorializada. Identificou-se que a farmácia viva quilombola vai além do uso técnico das plantas, incorporando rezas, afetos e intenções, como formas de resistência frente à medicalização biomédica. As práticas das raizeiras e parteiras reafirmam a coetaneidade desses saberes e denunciam o apagamento epistêmico promovido pelo colonialismo científico. Observou-se ainda que o uso das plantas é acompanhado de critérios simbólicos e éticos, como o modo de colher, preparar e transmitir o conhecimento. Por fim, constatou-se que defender esses saberes é reivindicar não só reconhecimento sanitário, mas também autonomia cultural, histórica e política.
