ALGUMAS PERSPECTIVAS SOBRE AS MATRIZES MÉDICAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n10-088Palavras-chave:
Educação, Medicalização, Higienismo, ExclusãoResumo
A história da educação brasileira está profundamente marcada pela influência de saberes médicos, especialmente higienistas e eugenistas, que intervieram no espaço escolar a partir do século XIX. Essas práticas consolidaram a escola como lugar de disciplinamento, normalização e controle. A metodologia utilizada baseou-se em revisão bibliográfica crítica de autores que discutem as intersecções entre educação, medicina e psiquiatria, articulada à inspiração genealógica de Michel Foucault. A partir dessa abordagem, buscou-se compreender como práticas de saber-poder médico se instituíram na escola. Objetivo geral é analisar como os discursos médico-higienistas podem se reatualizar nas práticas educacionais contemporâneas, especialmente por meio de discursos de inclusão que mantém mecanismos de normação e medicalização dos estudantes. Os objetivos específicos são: a) investigar a constituição histórica da escola como espaço de intervenção médica; b) compreender, a partir da perspectiva foucaultiana, como os processos de normação e disciplinamento dos corpos se mantêm na educação atual; c) problematizar a permanência da normação como resposta institucional aos comportamentos considerados desviantes no ambiente escolar. Conclui-se que a escola brasileira permanece atravessada por uma racionalidade médica que, ao invés de superar processos de exclusão, os reinscreve em novas práticas. A medicalização, assim, apresenta-se como continuidade histórica de estratégias de normação.
Downloads
Referências
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Psicologia escolar e educacional, v. 12, p. 469-475, 2008.
ARANTES, Adlene Silva. Discursos sobre eugenia, higienismo e racialização nas escolas primárias pernambucanas (1818-1938). A história da educação dos negros no Brasil. Niterói: EdUFF, p. 363-394, 2016.
BARBOSA, Rejane Maria; MARINHO-ARAÚJO, Clasy Maria. Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Estudos de psicologia (Campinas), v. 27, p. 393-402, 2010.
CENTOFANTI, Rogério. Os laboratórios de psicologia nas escolas normais de São Paulo: o despertar da psicometria. Psicologia da Educação, n. 22, 2006.
COSTA, Jurandir Freire. História da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro, Garamond Universitária, 2007.
CRUCES. A. V. V. Psicologia e educação: nossa história e nossa realidade. In S. F. C. Almeida (Org.), Psicologia escolar: ética e competências na formação e atuação do profissional. Campinas: Alínea. 2006.
DA SILVA, Rosane Neves et al. “Anormais escolares”. Interface-Comunic., Saude, Educ, v. 14, n. 33, p. 401-10, 2010.
DE LIMA, Aline Ottoni Moura Nunes. Breve histórico da psicologia escolar no Brasil. Psicologia Argumento, v. 23, n. 42, p. 17-23, 2005.
DE LOURDES PINHEIRO, Maria. Práticas de psicologia experimental e pedagogia científica na escola normal secundária de São Carlos: a concepção do educador paulista João Toledo. Revista HISTEDBR On-line, v. 13, n. 53, p. 173-182, 2013.
DELAGNOLO, Deise Priscila. Do diagnóstico esquizofrênico ao transtorno do espectro autista: transformações e implicações do dsm-5. Aracê, v. 7, n. 9, 2025.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2008.
FOUCAULT, Michel. O poder psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FOUCAULT, Michel. Os anormais. Martins Fontes, São Paulo, 2001.
FIRBIDA, Fabíola Batista Gomes; VASCONCELOS, Mário Sérgio. A construção do conhecimento na Psicologia: a legitimação da medicalização. Psicologia Escolar e Educacional, v. 23, p. e016120, 2019.
GONDRA, José Gonçalves. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na Corte Imperial. 2004.
JANUZZI, G. A luta pela educação do deficiente mental no Brasil. São Paulo, Brasil: Editora Autores Associados, 1985.
MARTINS, Samira. “Educar é Higienizar”: as diretrizes do ensino de Higiene nas Escolas Normais paulistas e o papel do professor no livro de Biologia Educacional. Epígrafe, v. 11, n. 1, p. 259-285, 2022.
MERCADANTE, Jefferson. O discurso médico-higienista no contexto educacional brasileiro do século XX: Arthur Ramos, Escola Nova e higiene mental. Intellèctus, v. 14, n. 2, p. 288-303, 2015.
NOGUEIRA, Juslaine Abreu. A psiquiatrização da educação. Paranavaí: Edunespar, 2024.
ROCHA, Heloísa Helena Pimenta. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na Corte Imperial. 2006.
SANTOS, Carla Ulliane Nascimento et al. O aluno diagnosticado com deficiência intelectual: limites da perspectiva classificatória. 2016.
SILVA, Carla Maciel da. Deficiência, contexto escolar, patologização da vida e processos diagnósticos: entre o mapa e o território. 2022.
WUO, Andrea Soares. A criança na Revista de Psicologia Normal e Patológica do Instituto de Psicologia da PUCSP (1955-1973): um estudo sobre “ajustamento/desajustamento”. 2009. 271f. 2009. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação). Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, PUC-SP, São Paulo.