DESVENDANDO A VOZ DAS SELVAS: A IMPORTÂNCIA DOS SABERES QUÍMICOS TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n11-049Palavras-chave:
Etnoquímica, Saberes Tradicionais, Ciência Decolonial, AmazôniaResumo
Os povos e comunidades tradicionais (PCTs) da Amazônia Ocidental detêm vastos saberes sobre a natureza, que ultrapassam fronteiras das ciências ocidentais, como química, física e biologia. Nesse contexto, a etnoquímica surge como ponte entre os conhecimentos tradicionais e a química acadêmica, reconhecendo a pluralidade epistemológica desses povos. Este artigo investiga os saberes químicos tradicionais dos PCTs, analisando sua interação com a ciência moderna por meio de revisão bibliográfica narrativa-integrativa. Ao reconhecer a etnoquímica como campo legítimo, busca-se valorizar os saberes e evidenciar sua relevância para a química contemporânea. A caracterização dos PCTs, incluindo indígenas, quilombolas, seringueiros, pescadores e caboclos, destaca sua diversidade cultural, a relação íntima com os territórios e a transmissão intergeracional de práticas sustentáveis. O estudo propõe que esses saberes sejam entendidos como universais, e não limitados, apresentando a etnoquímica como ciência decolonizadora que integra práticas ancestrais à metodologia da química ocidental. A experimentação empírica e a oralidade são ressaltadas como métodos eficazes na construção do conhecimento químico desses grupos, transcendendo os limites da ciência ocidental. Conclui-se que a etnoquímica promove uma compreensão ampla dos fenômenos químicos, respeitando as identidades e territorialidades dos PCTs, e propõe uma ciência plural e inclusiva, que valoriza os saberes tradicionais como parte integrante do saber químico moderno.
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