RECIFE NO INÍCIO DO SÉCULO XX PELAS LENTES DA BIOGRAFIA DO DR. ISAAC SALAZAR
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n5-157Palavras-chave:
Isaac Salazar, Faculdade de Medicina do Recife, Oftalmologia, Biografia, Padre CíceroResumo
Este artigo propõe a reconstrução da trajetória de Isaac Salazar da Veiga Pessoa (1884–1941), médico pernambucano, primeiro catedrático de oftalmologia da Faculdade de Medicina do Recife e figura marcante da medicina e do ensino superior no Brasil do início do século XX. Partindo da constatação de que seu nome ainda resiste em placas de ruas e edifícios da cidade, mas sua história permanece pouco conhecida, o estudo se apoia em uma extensa investigação documental realizada na Hemeroteca Digital Brasileira, que resultou em 3.607 registros, principalmente em periódicos de Pernambuco e do Rio de Janeiro. A partir desses documentos, traçou-se uma narrativa dividida em quatro eixos temáticos: a formação intelectual e familiar de Salazar; sua atuação como médico, educador e participante ativo na vida urbana recifense; o episódio mais emblemático de sua carreira — a cirurgia ocular realizada no Padre Cícero, no sertão cearense; e, por fim, o legado deixado por sua prática clínica e docente, perpetuado por instituições e discípulos. Ao longo de sua trajetória, Salazar se destacou no combate ao tracoma, na fundação da revista Archivos de Hygiene e na criação da Faculdade de Medicina do Recife, onde lecionou e se consolidou como referência nacional na oftalmologia. Seu legado se estende pela atuação de figuras como Altino Ventura, seu primeiro interno e fundador da Fundação Altino Ventura — hoje uma das maiores instituições filantrópicas da oftalmologia brasileira — e por seu sucessor como catedrático na Faculdade de Medicina, o Dr. Clóvis Paiva. O estudo também indica lacunas ainda pouco exploradas, como sua atuação no Hospital Centenário, atual Hospital dos Servidores, fundado com apoio de seu padrinho de casamento e colega de faculdade, e posteriormente estatizado durante o Estado Novo — um episódio que, segundo fontes orais, teria sido motivo de profundo desgosto em seus últimos anos. Embora o artigo se fundamente em ampla documentação, reconhece-se a limitação das fontes majoritariamente jornalísticas, muitas vezes opinativas ou imprecisas, o que confere ao trabalho um caráter introdutório e sinaliza a necessidade de aprofundamentos futuros. Mais do que apenas recuperar uma biografia apagada, o artigo convida à reflexão sobre os mecanismos de construção da memória urbana, propondo que os nomes estampados em placas de ruas sejam compreendidos como testemunhos vivos de trajetórias humanas complexas, muitas vezes esquecidas, mas fundamentais para a compreensão das raízes da medicina e da sociedade brasileira. Ao lançar luz sobre a figura de Salazar, o trabalho busca não apenas restaurar sua visibilidade histórica, mas também inspirar novas investigações que revelem outros personagens que, como ele, ainda aguardam para serem enxergados pela história.