“DE MÃOS ATADAS” – ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO DO SOFRIMENTO DE PSICÓLOGOS ORGANIZACIONAIS NO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL BRASILEIRO

Resumo

Os psicólogos organizacionais e do trabalho têm forte potencial de contribuição à saúde do trabalhador, dada a natureza de sua atividade. Apesar disso, a literatura carece de investigações sobre a sua vivência subjetiva de trabalho. O objetivo desse estudo foi analisar as suas estratégias de mediação ao sofrimento diante da resistência do real do trabalho. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, por meio de entrevista semiestruturada com nove psicólogos organizacionais e do trabalho em exercício em órgãos federais brasileiros. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo a partir de duas categorias teóricas advindas da psicodinâmica do trabalho de Dejours, que balizou o estudo. Os resultados demonstram que os servidores de POT estão em movimento de defesa, significativamente adaptados e, em alguma medida, contribuindo para a adaptação dos demais. A negação e a racionalização são as estratégias de defesa mais utilizadas, além da busca de apoio no coletivo e uso de brincadeiras no ambiente de trabalho. Para enfrentar o real, usam a inteligência prática para transgredir e desviar ao atendimento direto das imposições da organização do trabalho; colaboram uns com os outros muito mais para resistir do que para transformar os elementos da organização do trabalho que ensejam sofrimento; usam o espaço público para trocar e encontrar soluções, sem insurgir contra os elementos potencialmente adoecedores da organização do trabalho. Ademais, é incipiente o reconhecimento de beleza pelos pares, havendo maior registro de reconhecimento de utilidade pelas chefias e clientes. A mobilização subjetiva aparece limitada pela precariedade gerencialista e, assim, convoca-se o fortalecimento dos coletivos de trabalho para uma contrapsicologia, que confronte o gerencialismo que atravessa o trabalhar contemporâneo.