MITO E PSICANÁLISE: SOBRE O JARDIM DO ÉDEN E O DESAMPARO PRIMORDIAL
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev6n4-322Palavras-chave:
Psicanálise, Mito, Desamparo, Experiência de Satisfação, AngústiaResumo
Este artigo examina a relação entre a narrativa bíblica do Jardim do Éden e o Desamparo Primordial, tal como descrito por Freud a partir da mítica primeira experiência de satisfação, momento inaugural do aparelho psíquico que vem situar o desejo humano em torno de uma perda primeva. O mito do Éden, pertencente à tradição judaico-cristã, simboliza a condição humana marcada pela separação do paraíso e pela busca incessante por uma completude irrecuperável. Por sua vez, a primeira experiência de satisfação – como uma vivência inicial que estrutura o desejo e inaugura a atividade do aparelho psíquico, mediada pelo Nebenmensch – é atravessada pela perda e, consequentemente, pela incansável tentativa de recuperação de um objeto jamais tido. De forma análoga, enquanto o mito do Éden narra a perda do estado de harmonia original – com a introdução do interdito e a subsequente expulsão do paraíso, encapsulando a ideia de um desejo impossível de ser plenamente satisfeito –, a primeira experiência de satisfação aponta para a noção de das Ding, objeto perdido desde sempre e que vem representar o vazio central em torno do qual o desejo humano se estrutura. Visando refletir sobre a centralidade do interdito e do desamparo como eixos estruturantes da existência humana, ao articular a obra de Freud e o ensino de Lacan com o mito do Éden, este trabalho propõe uma leitura interdisciplinar que evidencia o mito como aquilo que vem, com um teor épico, narrar os fundamentos da experiência humana.