A AUSÊNCIA DO ARQUÉTIPO PATERNO E O DOMÍNIO DA SOMBRA: UMA LEITURA JUNGUIANA DA PSIQUE DE JEFFREY DAHMER

Resumo

Este artigo examina o caso de Jeffrey Dahmer sob a ótica da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, destacando como a ausência do Pai Simbólico — figura responsável por estruturar, orientar e dar contorno ao ego — e a não integração da Sombra contribuíram para a formação de um psiquismo fragmentado e permeado por impulsos destrutivos. A análise evidencia um ambiente familiar marcado por negligência afetiva, conflitos conjugais, instabilidade emocional materna e ausência paterna, elementos que, somados a possíveis predisposições genéticas, fatores ambientais e vulnerabilidades emocionais, produziram condições propícias para a manifestação de conteúdos inconscientes não elaborados. As práticas de Dahmer, como necrofilia, canibalismo e tentativas de zumbificação, são discutidas simbolicamente a partir de mitos e tradições culturais. A antropofagia Tupinambá e o ritual mortuário Yanomami ajudam a compreender, de forma metafórica, sua tentativa de fusão e domínio absoluto do outro. O mito grego de Orfeu ilumina a ligação entre amor, morte e desejo de conservar o objeto perdido, enquanto o Itã de Exu — orixá que rompe silêncios, desvela tensões reprimidas e força movimento psíquico — oferece um paralelo com a emergência caótica de elementos inconscientes quando não há mediação simbólica. O artigo revisita ainda hipóteses diagnósticas presentes na literatura, como Transtorno Antissocial, depressão, alcoolismo e possíveis traços de Asperger, discutindo como esses elementos podem se articular às dimensões simbólicas e emocionais do caso. Não se busca justificar os crimes, mas compreender como a combinação entre falhas afetivas, simbolização interrompida e conteúdos sombrios não integrados pode culminar em formas extremas de violência.