ENTRE O DISCURSO ESG E A PRÁTICA CONTÁBIL: DIVERGÊNCIAS NA MENSURAÇÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n12-041Palavras-chave:
ESG, Contabilidade Ambiental, Créditos de Carbono, Governança, B3Resumo
A crescente institucionalização do discurso ESG (Environmental, Social and Governance) consolidou um novo regime narrativo nas corporações contemporâneas. Justifica-se esta investigação diante da crescente discrepância entre compromissos climáticos declarados e a efetividade das métricas contábeis que deveriam sustentá-los, sobretudo em setores de alta materialidade socioambiental. Contudo, sua adoção massiva tem sido acompanhada por críticas que apontam a predominância de práticas simbólicas, desconectadas de processos efetivos de mensuração e responsabilização ambiental. Este artigo investiga as divergências entre narrativa e prática no contexto da contabilização dos créditos de carbono por empresas do setor energético brasileiro listadas na B3. A pesquisa, de abordagem qualitativa e documental, analisou demonstrações financeiras, notas explicativas e relatórios ESG de 18 companhias dos segmentos de petróleo, gás e biocombustíveis. Observou-se que apenas quatro delas (Raízen S.A., Refinaria de Petróleo Riograndense S.A., Ultrapar Participações S.A. e Vibra Energia S.A.) reconhecem e divulgam contabilmente seus créditos de carbono, majoritariamente como ativos intangíveis e provisões regulatórias derivadas do RenovaBio, em conformidade parcial com a OCPC 10, CVM 223/2024 e CTG 10. A análise revela discrepâncias significativas entre compromissos ESG declarados e transparência contábil efetiva, caracterizando um padrão de ESG performativo e reforçando riscos de greenwashing. O estudo contribui ao evidenciar fragilidades de governança climática no setor energético brasileiro e discutir os limites e possibilidades da contabilidade ambiental como instrumento de accountability em cenários de crise climática.
Downloads
Referências
BRASIL. Lei nº 15.042, de 2024. Institui diretrizes para o mercado regulado de carbono no Brasil.
CPC 46 – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Mensuração do valor justo. Brasília, 2012.
CVM. Resolução CVM nº 223, de 2024. Dispõe sobre a divulgação de informações financeiras
relacionadas à sustentabilidade.
FANCY, T. The secret diary of a “sustainable investor”. 2021. Disponível em: https://medium.com. Acesso em: 28 nov. 2025.
GRAY, R.; BEBBINGTON, J.; LARRINAGA, C. Sustainability accounting and accountability. 2. ed. London: Routledge, 2009.
GRAY, R.; OWEN, D.; ADAMS, C. Accounting and accountability: changes and challenges in corporate social and environmental reporting. London: Prentice Hall, 2014.
ICVCM – Integrity Council for the Voluntary Carbon Market. Core Carbon Principles and Program Assessment Framework. 2023. Disponível em: https://icvcm.org. Acesso em: 25 nov. 2025.
IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate Change 2023: Synthesis Report. Geneva: IPCC, 2023.
IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2021.
KOTSANTONIS, S.; PINNEY, C.; SERAFEIM, G. ESG integration in investment management: myths and realities. Journal of Applied Corporate Finance, v. 28, n. 2, 2016.
LARCKER, D.; WATTS, E. Where’s the greenium? ESG disclosure and firm valuation. Stanford: Stanford University, 2020.
LINS, L. dos S. Introdução à gestão ambiental empresarial: abordando economia, direito, contabilidade e auditoria. Rio de Janeiro: Atlas, 2015. E-book. p. 7.
OCPC 10 – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Créditos de carbono, permissões de emissão e CBIOs. Brasília, 2023.
RIBEIRO, M. Contabilidade ambiental: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2021.
SCHALTEGGER, S.; BURRITT, R. Contemporary environmental accounting: issues, concepts and practice. London: Routledge, 2017.
TCFD – Task Force on Climate-related Financial Disclosures. Recommendations of the TCFD. Basel: Financial Stability Board, 2017.
TINOCO, E.; KRAEMER, M. E. P. Contabilidade e gestão ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2011. p. 169.