REPENSANDO A UBERIZAÇÃO: ALCANCE, CONTORNOS E DESAFIOS DESSE FENÔMENO NO MUNDO DO TRABALHO
DOI:
https://doi.org/10.56238/levv16n52-067Palavras-chave:
Uberização, Plataformização, Trabalho Informal, Precarização, Entregadores, Catalão (GO)Resumo
Este artigo propõe uma análise crítica do conceito de "uberização", frequentemente empregado de forma indiscriminada para descrever fenômenos diversos relacionados ao trabalho mediado por plataformas digitais. Argumenta-se que tal generalização pode obscurecer as nuances e complexidades das relações de trabalho contemporâneas, esvaziando o potencial analítico do termo. Em meio a pesquisa empírica realizada com entregadores na cidade de Catalão (GO), no mestrado em Geografia, observa se a heterogeneidade das condições de trabalho nesse setor, distinguindo entre a "plataformização" de serviços, a precarização tradicional e a "uberização" propriamente dita, que implica subordinação e controle. As análises demonstram que, além dos trabalhadores diretamente vinculados as grandes plataformas, existe um vasto contingente de entregadores informais que operam para estabelecimentos locais, mediando suas condições de trabalho por canais alternativos como o WhatsApp. Essa dinâmica é, em parte, impulsionada pelas elevadas taxas cobradas dos estabelecimentos pelas plataformas, incentivando a busca por soluções de entregas independentes. Conclui-se que a uberização não é um fenômeno homogêneo, mas uma manifestação específica de um processo mais amplo de precarização do trabalho, que se sobrepõe e aprofunda a informalidade preexistente. Alerta-se, ainda, para o risco de que os debates regulatórios se concentrem apenas nos trabalhadores de plataforma, negligenciando uma parcela significativa de trabalhadores igualmente vulneráveis.
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