NEUROPROTEÇÃO ANESTÉSICA: EVIDÊNCIAS ATUAIS E PERSPECTIVAS NO MANEJO DE CIRURGIAS NEUROLÓGICAS
DOI:
https://doi.org/10.56238/levv16n54-114Palavras-chave:
Anestesia, Neuroproteção, Neurocirurgia, Isquemia CerebralResumo
Introdução: A lesão neurológica perioperatória permanece uma preocupação central na anestesia neurocirúrgica, na qual isquemia–reperfusão, estresse oxidativo e cascatas inflamatórias podem levar a danos neuronais irreversíveis. O conceito de neuroproteção anestésica engloba estratégias farmacológicas e fisiológicas que visam reduzir a lesão neuronal durante cirurgias neurológicas por meio da modulação da demanda metabólica, do fluxo sanguíneo cerebral e de vias de sinalização apoptótica.
Objetivo: O principal objetivo desta revisão sistemática foi avaliar as evidências clínicas e experimentais atuais relacionadas à neuroproteção anestésica em pacientes submetidos a cirurgias neurológicas. Os objetivos secundários incluíram descrever os mecanismos moleculares envolvidos, comparar os efeitos de diferentes modalidades anestésicas, avaliar a qualidade metodológica e a certeza das evidências, identificar fatores que contribuem para a heterogeneidade e propor prioridades para pesquisas futuras.
Métodos: Foi realizada uma busca sistemática nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, Cochrane Library, LILACS, ClinicalTrials.gov e ICTRP. Foram incluídos estudos publicados entre 2015 e 2025 que investigaram agentes ou técnicas anestésicas com propósito explícito de neuroproteção durante cirurgias neurológicas. Extração de dados, avaliação de risco de viés (RoB 2, ROBINS-I, QUADAS-2) e graduação da certeza das evidências (GRADE) foram conduzidas por dois revisores independentes, seguindo as diretrizes PRISMA 2020.
Resultados e Discussão: Sete estudos clínicos atenderam aos critérios de inclusão. Essas investigações avaliaram pré-condicionamento anestésico volátil, anestesia intravenosa total com propofol e dexmedetomidina, e adjuvantes não farmacológicos, como pré-condicionamento isquêmico remoto. A maioria dos estudos demonstrou reduções em biomarcadores de lesão neuronal (S100β, NSE, IL-6) e melhorias cognitivas transitórias, mas não evidenciou benefícios funcionais ou neurocognitivos duradouros. A certeza geral das evidências foi considerada baixa devido à heterogeneidade, ao pequeno tamanho das amostras e a limitações metodológicas. Pesquisas translacionais em modelos animais continuam a sustentar a plausibilidade mecanística, mas a validação clínica consistente ainda está ausente.
Conclusão: As evidências atuais não sustentam o uso rotineiro de estratégias específicas de neuroproteção anestésica em cirurgias neurológicas. O foco clínico deve permanecer na manutenção da perfusão cerebral, da estabilidade hemodinâmica e da homeostase fisiológica. Ensaios clínicos randomizados multicêntricos, utilizando protocolos padronizados, validação de biomarcadores e desfechos neurocognitivos de longo prazo, são essenciais para esclarecer o real impacto da neuroproteção anestésica em pacientes neurocirúrgicos.
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