PREVENÇÃO OU MEDICALIZAÇÃO? OS DESAFIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) NA ERA DO RASTREIO POPULACIONAL E DA GESTÃO DE RISCO
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n3-287Palavras-chave:
Rastreio Populacional, Gestão de Risco, Medicalização, Prevenção, APSResumo
Nas últimas décadas, o campo da saúde coletiva tem sido atravessado por um intenso debate sobre os limites e possibilidades da prevenção no interior das políticas públicas de saúde. Em especial na Atenção Primária à Saúde (APS), reconhecida como porta de entrada preferencial e espaço privilegiado de vínculo, escuta e cuidado integral, observa-se uma crescente ênfase na racionalidade técnica da gestão de risco e na adoção sistemática de estratégias de rastreio populacional. Tais práticas, embora legitimadas pelo discurso da promoção da saúde e da eficiência do sistema, vêm sendo criticadas por promoverem uma sutil, porém profunda, medicalização da vida cotidiana, deslocando o foco da clínica ampliada para um modelo centrado na vigilância e na padronização de condutas. Diante desse contexto, indagamos: De que modo à centralidade da gestão de riscos e das estratégias de rastreamento na Atenção Primária à Saúde tem contribuído para a medicalização da vida cotidiana e para o esvaziamento da clínica ampliada nas práticas de cuidado? Para isso, utilizamos como aporte teórico os estudos de Szasz (1974), Illich (1975), Foucault (2001; 2014), Han (2010), Löwy (2010), Starfield (2002), Armstrong (2002), Kidd, Heath & Howe (2013), Rose (2013), Merhy (2007), Diniz (2007), Conrad (2007), Mol (2008), Rose (2008), Ahlzén et. al. (2017), Agamben (2018), Young (1997), Silva & Hortale (2012), Starfield (2002), Mol (2008), Merhy (2007), Rose (2008; 2013), entre outros. A metodologia utilizada é de cunho qualitativa (Minayo, 2007), bibliográfica e descritiva (Gil, 2008) e com o viés analítico compreensivo a partir de Weber (1949). A pesquisa revelou que a centralidade do rastreamento populacional e da gestão de risco na APS tem intensificado a medicalização da vida cotidiana, reduzindo o cuidado à aplicação de protocolos e enfraquecendo a escuta e o vínculo. Evidenciou-se que essa racionalidade tecnocrática desloca a clínica ampliada para um modelo normativo, marcado pela vigilância e pela padronização de condutas. Em contrapartida, apontaram-se caminhos de resistência ancorados na ética do cuidado, na valorização dos saberes do território e na formação crítica dos profissionais.