GERAÇÃO ESQUECIDA PELO LETRAMENTO – A ÚLTIMA FRONTEIRA DO ANALFABETISMO NO BRASIL: DESAFIOS, IMPACTOS E POSSIBILIDADES DE ALFABETIZAÇÃO TARDIA ENTRE IDOSOS EM CONTEXTOS DE VULNERABILIDADE
DOI:
https://doi.org/10.56238/arev7n8-218Palavras-chave:
Alfabetização Tardia, Idosos, Vulnerabilidade Social, CidadaniaResumo
Em um cenário social marcado por avanços significativos na expansão do acesso à educação básica, o Brasil ainda convive com um contingente expressivo de pessoas que jamais foram alcançadas pelos processos de letramento. Assim, vale destacar que, segundo dados do Censo Demográfico de 2022, aproximadamente 11,4 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais permanecem analfabetos, correspondendo a uma taxa de 7,0% da população adulta. E ainda, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) confirma que essa taxa, embora declinante ao longo das últimas décadas, permanece alarmantemente alta entre idosos, alcançando 20,3% na faixa etária acima de 65 anos. Em outras palavras, enquanto a alfabetização se consolidou entre os mais jovens, tornou-se também um fosso geracional que separa quem teve a oportunidade de estudar daqueles que, sobretudo em contextos de vulnerabilidade, passaram a vida à margem do sistema educacional. Assim sendo, este artigo tem como objeto de estudo a análise compreensiva dos desafios, impactos e possibilidades da alfabetização tardia entre idosos que vivem em contextos de alta vulnerabilidade social e que, não raro, experimentam relações de dependência familiar para acessar direitos e serviços que pressupõem o letramento. A pergunta de partida que orienta esta pesquisa é a seguinte: Quais são os desafios, impactos e possibilidades da alfabetização tardia entre idosos analfabetos no Brasil, particularmente quanto aos efeitos sobre suas relações familiares, comunitárias e sobre a percepção de si mesmos como sujeitos de direitos? A pesquisa é de cunho qualitativa (Minayo, 2008), bibliográfico e descritiva (Gil, 2007), com o viés analítico compreensivo (Weber, 1949). Teoricamente, fizemos uso dos trabalhos de Freire (1992; 1997; 2011; 2013; 2014a; 2014b; 2014c), Giroux (2011; 2024), Brookfield (2006; 2017), Jarvis (2007), Mezirow (1991), Soares (2004; 2009), Street (1995), Barton; Hamilton (2012), Brandão (2007), Bosi (2023), Beauvoir (2018), Dussel (2001), Dantas; Amorin; Leite (2016), UNESCO (2010; 2014; 2016; 2020; 2024), entre outros. A investigação evidenciou que a alfabetização tardia entre idosos transcende o ensino do código escrito, configurando-se como prática de resgate da cidadania e da dignidade. Os achados revelaram impactos positivos na autoestima, nas relações familiares e na inserção comunitária, destacando-se o fortalecimento de vínculos intergeracionais e a ampliação da participação social. Observou-se, ainda, que o letramento tardio funciona como mecanismo de reparação histórica diante da exclusão educacional, ao mesmo tempo em que abre possibilidades para políticas públicas inclusivas. Assim, ficou claro que alfabetizar idosos em contextos de vulnerabilidade não é apenas um desafio pedagógico, mas um ato político, ético e social.
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