Vida nômade, fugindo do saber sobre si para encontrar o mundo: Um estudo de caso no existencialismo

Resumen

O estudo de caso aqui descrito explora a compreensão clínica desenvolvida em um estágio em clínica-escola, entre agosto de 2021 e dezembro de 2022, quando a universidade ainda mantinha o distanciamento social. Através de atendimentos online, adaptados a partir da abordagem existencialista, discute-se o caso de uma mulher com queixas de ansiedade, depressão e um histórico de tentativas de suicídio, vivendo uma vida nômade, morando em uma kombi com o marido, sendo os dois músicos, que se apresentavam em diversas cidades como forma de sobrevivência. A condição de atendimentos online, iniciadas na pandemia da Covid-19, viabilizou que a paciente realizasse a psicoterapia, porém, as condições eram precárias, por falta de espaço privado para sessões e dificuldades de acesso a internet, exigindo fortalecer a aliança terapêutica e o manejo clínico para contornar desafios. Entre as queixas iniciais a paciente se identificava como sendo “filha de uma mãe narcisista”, conclusão a que chegou depois de ler um livro de auto-ajuda e que lhe forneceu uma explicação para comportamentos que ela não conseguia compreender em si. O existencialismo rejeita qualquer determinismo, compreendendo que o sujeito é uma constante totalização em curso e nunca encerra-se em uma tendência, patologia ou vocação à priori. O caso ilustra a complexidade das relações familiares e como a identificação com rótulos pode tanto ajudar quanto limitar o processo psicoterapêutico. A abordagem existencialista proporcionou uma mediação para questionar essas identidades fixas e abrindo uma ressignificação de sua história e novas possibilidades existenciais, levando em conta suas escolhas e projeto de ser.