PROTAGONISMOS FEMININOS E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL: RECICLAGEM E TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS EM MINAS GERAIS

Autores

  • Márcia Cristina Moreira Paranhos Autor
  • Aline Leite Dias Autor

DOI:

https://doi.org/10.56238/ERR01v10n6-001

Palavras-chave:

Protagonismo Feminino, Justiça Socioambiental, Catadoras de Materiais Recicláveis, Territórios Quilombolas, Tecnologias Sociais, Governança Comunitária

Resumo

Este artigo examina como o protagonismo de mulheres em dois contextos socioterritoriais de Minas Gerais, catadoras de materiais recicláveis em Belo Horizonte e mulheres da Comunidade Quilombola de Cachoeira dos Forros, em Passa Tempo, sustenta processos concretos de justiça socioambiental. Adota-se abordagem qualitativa com inspiração em pesquisa-ação, combinando observação de campo, conversas orientadas, análise documental e devolutivas coletivas, com o objetivo de compreender de que modo práticas de trabalho, cuidado e autogestão, articuladas à defesa do território e à transmissão de saberes, reconfiguram relações de poder, geram valor socioambiental e ampliam capacidades políticas locais. A análise mobiliza quatro dimensões analíticas, a primeira relacionada à circularidade e valor nas cooperativas urbanas, onde as catadoras organizam fluxos, qualificam materiais, mitigam impactos e internalizam riscos frequentemente negligenciados pelo Estado e pelo mercado, a segunda referente ao território e ancestralidade no quilombo, em que técnicas produtivas, rituais de memória, regras de uso comum e solidariedades intergeracionais asseguram reprodução social e soberania alimentar, a terceira vinculada à governança e reconhecimento, que evidencia assimetrias na distribuição de responsabilidades, recursos e voz pública, e a quarta relativa às tecnologias sociais do cotidiano, nas quais cooperação, cuidado e pactos comunitários convertem adversidades em arranjos inovadores de gestão, renda e proteção da vida. Os resultados demonstram que a sustentabilidade efetiva depende do reconhecimento do valor socioambiental gerado por essas mulheres e da correção das desigualdades estruturais que oneram desproporcionalmente corpos e territórios negros, exigindo políticas que considerem redistribuição de direitos, reconhecimento cognitivo e participação política qualificada. Conclui-se que a articulação entre circularidade urbana e ancestralidade rural constitui um modelo de transformação socioterritorial capaz de orientar transições ecológicas justas no Brasil, nas quais a justiça socioambiental se torna indissociável do fortalecimento do protagonismo feminino e da valorização de seus saberes e práticas.

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Publicado

2025-11-03

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

PROTAGONISMOS FEMININOS E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL: RECICLAGEM E TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS EM MINAS GERAIS. (2025). ERR01, 10(6), e9530 . https://doi.org/10.56238/ERR01v10n6-001