ENTRE A CIDADE VITRINE E A CIDADE REAL: O PARQUE LINEAR DA NOVA DOCA E AS CONTRADIÇÕES DO URBANISMO DE MEGAEVENTOS EM BELÉM (COP-30)

Resumo

A cidade de Belém (PA), historicamente marcada por desigualdades socioespaciais, revela no contraste entre centro e periferia a divisão entre a "cidade vitrine" e a "cidade real" (MIRANDA, 2023). A preparação para a COP-30, especialmente por meio do Parque Linear da Nova Doca, simboliza esse paradoxo: enquanto áreas nobres recebem vultosos investimentos, bairros periféricos permanecem expostos a esgoto a céu aberto, alagamentos e ausência de áreas verdes e lazer (CASTRO; DIAS, 2025). Embora a literatura sobre megaeventos e urbanismo neoliberal seja crescente (ROLNIK, 2015), permanece uma lacuna de conhecimento sobre os impactos socioespaciais desses processos na Amazônia urbana, particularmente sobre como a lógica da modernidade líquida se materializa em cidades periféricas do sistema-mundo. Este estudo tem como objetivo analisar como a obra da Nova Doca expressa as contradições da urbanização seletiva em Belém, buscando responder: como o Parque Linear da Nova Doca expressa as contradições da urbanização em Belém, evidenciando a lógica seletiva e excludente dos megaeventos no contexto da modernidade líquida? A pesquisa é qualitativa, de base dedutiva, fundamentada em análise documental, normativa e bibliográfica, envolvendo fontes acadêmicas, institucionais e jornalísticas. A análise articula os conceitos de Zygmunt Bauman, como modernidade líquida, globalização, cidade espetáculo, "locais" e "globais", descartabilidade social e medo líquido, cujas categorias de instabilidade e fluidez das relações contemporâneas oferecem chaves interpretativas adequadas para compreender as dinâmicas urbanas de megaeventos (BAUMAN, 1999; 2001), evidenciando como a capital paraense se conecta seletivamente ao circuito internacional enquanto mantém suas periferias à margem. Os resultados indicam que a preparação de Belém para a COP-30 reproduz a lógica do urbanismo de fachada, privilegiando a estética e a visibilidade internacional em detrimento da inclusão social. Conclui-se que a COP-30 não apenas projeta Belém como vitrine global, mas também expõe de forma contundente as contradições estruturais de sua urbanização, revelando que a modernização segue privilégio de poucos, enquanto o direito à cidade permanece negado à maioria.